- Gertrudes!
E o teu não, sabes? É por isso que eu, te temendo teus sôfregos beijos que me arrancavam de mim, priminha afastada de quinze anos, só por isso te amo. Simples e raro é o teu nome. Porque eu digo: Maria, só, e não marilena, mariarosa, maria da conceição, da purificação. Tu não tens outro nome que te estrague nessa lisura de pedra mármore da cara e do nome e do sisal dos teus cabelos rebeldes. É fresco o nome, é quente. Maria! - ainda digo no espelho, mas dez anos estão entre esse nome e a fotografia do outro que era eu e suas múltiplas caras no espelho. Maria!, repito. Mas teu nome é só a mancha condensada de vapor na superfície fria do espelho que vai, pouco-pouco, desaparecendo. Nunca o teu nome me lembra criadas que são as marias, como quando tinha de dizer, todos os anos e a todos os professores preenchendo as todas cadernetas da minha vergonha:
- ... mãe: Maria Gertrudes...
E dizia-lhe como se fosse três nomes, três dores: Maria, um; Ger, bem carregado e silabado, dois; e Estrudes como sempre não posso deixar de dizer e é como se dissesse: uma sua criada, como a mãe diz às freguesas deixando serviço para arranjar: chulear, ajur, prega de rendas, caçar as malhas, bainhas.
José Luandino Vieira, Nós os do Makulusu. Lisboa, Edições Cotovia, 2008. p. 36-37.
2 comentários:
A inocência e a simplicidade de uma criança.Bonito texto!
MV
De que são feitos os nomes?
- Isabel X -
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