Eduarda Dionísio (1980)
4. Desenho: máquina de escrever; código: famíliaTexto A [msc]
Da pinha, fiz pinhão, do pinhão fiz berlinde, do berlinde fiz fisga, da fisga fiz costela, da costela fiz espingarda, da espingarda fiz máquina de escrever, da máquina de escrever fiz cana de pesca, da cana de pesca fiz fim de semana, do fim de semana fiz uma vida inteira, da vida inteira fiz uma obra volumosa e muito considerada sobre "as relações de troca, produção e consumo na estrutura familiar das sociedades capitalistas.
Texto B [jbs]
Da máquina de escrever fiz letras, das letras fiz palavras, das palavras fiz comunicados, dos comunicados fiz desejos, dos desejos fiz ideias, das ideias fiz memória - a memória possível de tudo isso que era meu e já não era - e de novo ideias, desejos, comunicados, palavras, letras, máquina de escrever.
2 comentários:
É válido para todos os "Textos de véspera e do dia seguinte".
O que lemos, depois o que pensamos e sentido que lhe damos ao escrever.
João Ramos Franco
"As palavras
As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa. As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendidas e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são como carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos "slogans" publicitários, nas legendas dos filmes, nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem, segregam, eliminam. São melífluas ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas."
José Saramago
MV
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