De acordo com as regras da incorporação militar aplicadas a estudantes universitários, eu devia dar entrada na recruta para oficiais milicianos, em Mafra, no ano de 1974. Refiro-me à famosa regra 20+5 (vinte anos acrescidos do número de anos necessários para a conclusão de uma licenciatura). Em Novembro de 1973, deslocara-me à sede do meu Distrito de Recrutamento, em Santarém, a fim de entregar um requerimento solicitando que me fosse concedida a possibilidade de entrar em última incorporação do ano, para concluir a licenciatura. De facto, terminara o bacharelato em Setembro de 1970, tendo a partir daí realizado uma cuidadosa gestão das cadeiras do 4º e 5º anos do Curso, de modo a adiar até ao limite dos 25 anos a entrada na tropa.
A questão do “serviço militar” tinha sido objecto de discussão com os amigos mais próximos no final da década de 60. Se bem que nesta matéria imperassem as opções individuais, interessávamo-nos pelos argumentos gerais das posições tipo: recusa da incorporação, o que implicava inexoravelmente a emigração clandestina, versus aceitação da imposição proveniente do regime autoritário com todas as consequências. Havia quem defendesse a chamada posição revolucionária: desertar em caso (praticamente inevitável) de mobilização para uma das “frentes de guerra”. Alguns tinham acesso a situações consideradas menos gravosas, como o ingresso na Marinha. Eu encontrava-me na posição dominante: enfrentar a incorporação e as suas consequências com desconfiança e revolta, admitindo no entanto reexaminar a situação mais à frente.
sábado, 25 de abril de 2009
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4 comentários:
Eu fiz 20 anos em 1974. A regra não era exactamente 20+5 mas sim 20+a , tendo a que ser igual ou inferior ao ano em que o aluno se matriculava.
Tive sorte porque, não tendo perdido adiamento, fui automaticamente passado à reserva, ao contrário de colegas que o pediram, e obtiveram, e acabaram por cumprir tropa mais tarde.
As directivas dos partidos de esquerda, nomeadamente do PCP, eram para os militantes e simpatizantes integrarem as forças armadas (para as minarem por dentro) e influenciar um máximo de jovens a serem refractários ou desertores. Mas penso que, na maioria das situações, sucedia exactamente o contrário...
Até perante estes factos sobeste gerir o teu futuro..
João Ramos Franco
Pobres dos desgraçados que não podiam recorrer a nenhum desses subterfúgios...
L Pereira fala em subterfúgios, na minha opinião incorrectamente.
O regime precisava de quadros licenciados na tropa e aguardava os anos de formatura para os ter.Era pois uma necessidade da máquina de guerra e não um privilégio concedido aos jovens estudantes.
Não havia pois aqui qualquer subterfúgio,apenas um direito concedido pela lei.
A refracção (é este o termo?) ou a deserção era,na minha opinião,um direito de todos perante uma guerra injusta.Como disse não entreguei adiamento em 1974 porque era precisamente o que tencionava fazer.
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