No Congresso de Setúbal de Abril 1909 prevaleceu um orientação que colocava a revolução na ordem do dia, em prejuízo da que defendia uma via gradualista para a tomada do poder.
João Chagas, um dos protagonistas da estratégia vencedora, ele próprio um revolucionário oriundo do 31 de Janeiro de 1891, não se cansou de repetir, no período que antecedeu o Congresso, como no que se lhe seguiu, que a revolução era um imperativo patriótico e moral, e que os problemas políticos do País já não podiam ser equacionados um a um, pois se unificavam num único problema: Portugal.Que lembramos hoje deste tempo e destas gerações que acreditaram num programa de regeneração de Portugal, aplicando-se em identificar-lhe um destino, uma interpretação do passado, um novo sistema político, uma nova elite?
Em primeiro lugar pedimos à história que nos ajude a reconstituir os factos e os personagens, a trama dos desafios e das possibilidades, tanto as viáveis como as inviáveis, tanto as vitoriosas como as derrotadas.
A história é fundamental, mas num acto comemorativo não é tudo. Há um aspecto cívico das comemorações que, conjugando-se com a história, se apoia na memória e responde a um apelo de valores.
A memória da República sobreviveu com inúmeras dificuldades. A ditadura e o autoritarismo segmentaram-na, escolhendo um dos segmentos como justificação e legitimação, para melhor silenciarem o restante. Chegou a 1974, à Democracia, fragmentada, olhada com desconfiança ou mesmo hostilidade. Foram poucas as vozes autorizadas que então se ergueram em defesa dessa memória, tributando-lhe reconhecimento, e muito menos as que nela reivindicaram as suas origens democráticas.
Repor a memória histórica na sua dimensão plural é uma das nossas preocupações cívicas. Há valores que atravessaram gerações e dão sinais de futuro. A liberdade, a igualdade, a fraternidade não são lemas de uma utopia datada, são, com as evoluções e adaptações naturais, aspirações que mobilizam. A República como o demonstrou a eleição recente do presidente dos Estados Unidos, pode mudar o rumo de políticas, produzir rupturas sem perder a sua dimensão popular integradora. A República mostrou, neste caso, ser o mais forte elemento de coesão nacional perante uma crise de proporções insuspeitadas.
Uma Monarquia pode viver de uma tradição e uma aristocracia da vontade de poder. Uma República só pode viver da dedicação dos seus cidadãos porque é feita por eles. A dedicação precisamente àquilo que é de todos, à res publica.
É essa dedicação que aqui começamos hoje a celebrar, e dessa forma também a procurar projectar para o futuro da nossa República.
1 comentário:
Aprendendo com João B. Serra o caminho percorrido para a implantação da Republica em Portugal e o transportar-nos até a actualidade mostrando que “Há um aspecto cívico das comemorações que, conjugando-se com a história, se apoia na memória e responde a um apelo de valores.”
João Ramos Franco
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