Lembrança de Manuel Mendes, na visita de Sábado à Régua e S. João da Pesqueira.
Há dois dias que trago os olhos deslumbrados com estas terras de assombro, paisagem ao mesmo tempo sedutora e medonha, natureza petrificada numa convulsiva agitação de cataclismo, mar tormentoso, a levantar-se nas ondas encrespadas dos seus barrocais, mais aflitivo talvez que o outro mar, pois se queda envolto em silêncio, imóvel nos agrestes fraguedos, e é preciso perscrutá-lo fundo para que se lhe sinta o frémito e ouça o bramir. O que aqui se vê, e além de ver vislumbra, fixa-se para sempre na retina, prende-se entranhadamente à alma, e ficará a vibrar numa impressão porventura dolorosa e inesquecível. Estas serranias impõem-se pela beleza abaladora, o ondulado constante em que se estendem, acompanhando as sinuosidades do rio – o rio que tudo domina.
Manuel Mendes, Roteiro Sentimental, Douro. Edição Museu do Douro, 2002. p. 29
terça-feira, 16 de agosto de 2011
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