Assisti
à realização do projecto de António Fonseca sobre Os Lusíadas no palco do
Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. a 9 de Junho passado. Constituiu
para mim uma experiência singular, que me surpreendeu, cativou e emocionou.
No
plano estritamente profissional, assisti e uma performance de elevadíssima
exigência, fundamentalmente credora das capacidades do actor. Dizer os 10
cantos de Os Lusíadas numa sessão contínua implica a mobilização de talentos
excepcionais, longa e persistentemente aplicados, numa preparação que pôs à prova
faculdades as mais diversas de António Fonseca. Desde a assimilação de um texto
muito complexo, até à sedução pela palavra de um publico heterogéneo.
Os
Lusíadas enquanto texto épico e portanto histórico sempre teceu uma relação
especial com períodos críticos da historia nacional. Foi assim, desde logo no
século XVI, no período que se seguiu a Alcácer Quibir, onde o jovem rei D.
Sebastião perdeu a vida. Foi assim, particularmente no século XIX, tanto no
período das invasões francesas e da revolução liberal, como, mais tarde, na
crise do Ultimatum. Há quem entenda que o actual momento esquinado que Portugal
atravessa é propicio a uma releitura de Camões, poeta das crises nacionais e da
sua superação, pelo apelo aos valores de que seria portador o " peito
ilustre lusitano".
Desse
ponto de vista, a encenação do canto X idealizada por António Fonseca é
particularmente interessante. O palco é "invadido" por varias dezenas
de famílias que mediante, um trabalho prévio de interpretação de estrofes e
versos, oferecem aos espectadores emocionados uma leitura partilhada da
derradeira parte do poema.
Quero
testemunhar o enorme apreço de que este trabalho de António Fonseca é
merecedor, tanto pelo aspecto didáctico, ao induzir novas formas de
relacionamento com o texto épico, como pelo aspecto artístico e cultural, ao
expor modalidades também novas de apreensão do texto e dos seus múltiplos
significados.
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