segunda-feira, 11 de junho de 2012

António Fonseca e Os Lusíadas


Assisti à realização do projecto de António Fonseca sobre Os Lusíadas no palco do Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. a 9 de Junho passado. Constituiu para mim uma experiência singular, que me surpreendeu, cativou e emocionou. 
No plano estritamente profissional, assisti e uma performance de elevadíssima exigência, fundamentalmente credora das capacidades do actor. Dizer os 10 cantos de Os Lusíadas numa sessão contínua implica a mobilização de talentos excepcionais, longa e persistentemente aplicados, numa preparação que pôs à prova faculdades as mais diversas de António Fonseca. Desde a assimilação de um texto muito complexo, até à sedução pela palavra de um publico heterogéneo.
Os Lusíadas enquanto texto épico e portanto histórico sempre teceu uma relação especial com períodos críticos da historia nacional. Foi assim, desde logo no século XVI, no período que se seguiu a Alcácer Quibir, onde o jovem rei D. Sebastião perdeu a vida. Foi assim, particularmente no século XIX, tanto no período das invasões francesas e da revolução liberal, como, mais tarde, na crise do Ultimatum. Há quem entenda que o actual momento esquinado que Portugal atravessa é propicio a uma releitura de Camões, poeta das crises nacionais e da sua superação, pelo apelo aos valores de que seria portador o " peito ilustre lusitano".
Desse ponto de vista, a encenação do canto X idealizada por António Fonseca é particularmente interessante. O palco é "invadido" por varias dezenas de famílias que mediante, um trabalho prévio de interpretação de estrofes e versos, oferecem aos espectadores emocionados uma leitura partilhada da derradeira parte do poema.
Quero testemunhar o enorme apreço de que este trabalho de António Fonseca é merecedor, tanto pelo aspecto didáctico, ao induzir novas formas de relacionamento com o texto épico, como pelo aspecto artístico e cultural, ao expor modalidades também novas de apreensão do texto e dos seus múltiplos significados.

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