A acção que em nome da CGTP foi efectivada no passado dia 24, em Guimarães, merece critica política democrática. Os seus responsáveis, do meu ponto de vista, deveriam ser citados ao contraditório nos órgãos próprios da democracia representativa, local e nacional.
Em primeiro lugar, não creio que tenham sido respeitadas as leis do Estado de Direito. Quem invoca a legalidade democrática deve começar por dar provas de a cumprir. O direito de manifestação está regulado e obriga a procedimentos de informação prévia e localização que não foram evidentemente acatados pelos promotores da manifestação.
Em segundo lugar, os símbolos nacionais estão constitucionalmente consagrados, e entre eles encontram-se o Presidente e o Hino. Os insultos aos Presidente e a sobreposição de palavras de ordem e apitos ao Hino são violações da Constituição.
Por outro lado, a racionalidade da acção política não é verificável. Se o objectivo era demonstrar capacidade de mobilização de massas, uma centena de pessoas é curto. Se o objectivo era contestar a promulgação do Código de Trabalho, como se compreendem os insultos ao Presidente e o desrespeito do Hino?
O que vimos foi uma acto voluntarista, inorgânico, sem enquadramento nem direcção política, inconsequente, tumultuoso.
Não pode ser olhado pela lado do direito de manifestação nem sequer do direito à indignação. De facto este ultimo, corporizado numa reacção às palavras do Presidente sobre as condições da sua reforma, já tinha sido expresso a 21 de Janeiro.
Agora, repetir os gestos e as frases de 21 de Janeiro, quando o Presidente vem a Guimarães celebrar a forma como cidade tem enfrentado problemas difíceis e exigentes, carece de sentido de oportunidade. Objectivamente, a acção de 24 de Junho foi contra Guimarães e contra a Capital Europeia da Cultura.
Marx, um filosofo alemão hoje menos lido do que merecia, alertou contra os riscos de repetir a história. A segunda tentativa tende a não passar de uma farsa.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
domingo, 24 de junho de 2012
Registo
No ano em que, nesta cidade,
Portugal se faz mais europeu e a Europa conhece melhor Portugal, evocamos, hoje,
Guimarães
como terra de Fundação da Nacionalidade. Lugar de origens e de começos, disso se orgulha
legitimamente, honrando e actualizando um património imperecível.
Como tantas vezes sucede com
os grandes acontecimentos que fundam um tempo e uma memória colectiva, o valor simbólico impõe-se neles à própria história. O inicial torna-se iniciático.
A Batalha de S. Mamede, de 24
de Junho de 1128, pela qual o jovem cavaleiro Afonso Henriques se apoderou do
legado de sua mãe,
foi um desses acontecimentos. Como salienta José Mattoso, o 24 de Junho é, desde tempos imemoriais, uma
data “carregada
de simbolismo”,
assinalando “uma
mutação cósmica marcada pelo solstício”, que faz dele “o dia mais longo do ano”. Consagrado à veneração de São João Baptista, o “precursor do Messias” e aquele “que anuncia a sua vinda
iminente”,
nesse dia de 1128 um novo reino também se anunciou, com a vitória, nestas terras, do príncipe fundador.
Guimarães voltaria a estar presente,
em circunstâncias
e épocas
distintas, nos caminhos da independência portuguesa. Foi assim em 1385, quando o Mestre de Avis
conseguiu trazer Guimarães para o seu partido, antes de ser chamado a Aljubarrota.
Por isso, a vitória
da independência
quis ele celebrá-la aqui,
aonde de imediato regressou para oferecer à colegiada da Oliveira, além dos objectos mais valiosos
do despojo da batalha, o laudel usado pelo guerreiro, nas palavras de Fernão Lopes “semeado de rodas de ramos e
tendo em meio outras rodas e escudos de São Jorge”.
Foi assim também em 1808, quando o corregedor
da comarca convocou o povo para aclamar D. João VI. O Regente tinha deixado
Lisboa pelo Rio de Janeiro, perante a ameaça do exército napoleónico. Estávamos a 18 de Junho, dois dias depois da festa do Corpo de
Deus, transformada num cortejo de sátira e desafio aos ocupantes franceses.
As crises nacionais apelam aos
valores da identidade, da tradição e da representação da Pátria. Inseguros num presente incerto, os povos procuram
segurança
numa história
que firme a continuidade e reforce a coesão. Daí até ao mito, a distância é curta.
Orgulhosa do seu privilégio histórico e simbólico, Guimarães não faz, contudo, do seu passado
glorioso uma inércia.
Sabe olhar o futuro desse passado com arrojo e lucidez.
Como se escreveu no O Guia de Portugal, na cidade convivem
duas forças.
Aos traços da
cidade histórica,
condicionada por uma herança física medieval, contrapõem-se os da cidade mercantil e industrial, que tem
atravessado, desde o século XVII, as várias etapas tecnológicas e organizativas da produção industrial.
É com esta dupla feição, expressa em diferentes campos
e modos, que Guimarães entra no século XXI. É com ela que interpreta e patenteia também o título de Capital Europeia da
Cultura.
A dimensão histórica configura o imaginário colectivo, modela a percepção que a cidade tem de
si-mesma, marca a paisagem e o património, deixa referências no tecido social. É um identificador e um eixo.
A dimensão industrial traz a experiência dos mercados e da
mobilidade, da construção, da destruição, da reconstrução. Da crise e da procura de novos processos e horizontes. É um impulsionador e uma roda
em movimento.
Se a primeira lida com a memória e a perenidade, a segunda
lida com a instabilidade e o risco.
Ao longo dos tempos modernos,
uma extraordinária
geração de
intelectuais e criadores afirmou-se em Guimarães, reflectindo sobre as
resultantes e combinatórias desta realidade complexa. De Francisco Martins
Sarmento a Alberto Sampaio, de Abel Salazar a Raul Brandão, de Alfredo Pimenta a
Joaquim Novais Teixeira, de Fernando Távora e Nuno Portas a José de Guimarães, estes são alguns dos nomes que
projectaram a cidade além do seu espaço e do seu tempo. Por eles, a cidade foi interpelada, no
repto de se abrir a uma experiencia mais ampla e diversa, que é a da criação cultural e do conhecimento.
A Capital Europeia da Cultura
assumiu o ambicioso encargo de intervir sobre este dualismo vimaranense,
contribuindo, senão
para o superar, pelo menos, para o situar num patamar diferente.
Esse desafio, que assumimos
com responsabilidade, empenho e também prazer, pode ser assim sintetizado: proporcionar aos
cidadãos
novas formas de “ler” e de viver a cidade, novas
maneiras de ser sujeito do processo criativo; reforçar a abertura à Europa e ao mundo, propondo
novos paradigmas e novos horizontes; dar à cultura o lugar de parceiro insubstituível no processo da mudança económica e social.
Para a sua Capital Europeia, a
cultura é
inseparável
da vida e visa o seu aperfeiçoamento, a sua abertura ao novo. É liberdade, energia, movimento,
conhecimento, criação. Em cada programa, em cada projecto, em cada realização, há este entendimento que liga
cultura e cidade, criação e existência, pensamento e experiência.
A
Plataforma das Artes e da Criatividade pretende colocar Guimarães nos circuitos relevantes da
arte contemporânea
internacional, reforçar o seu lugar nas redes de exibição artística mais exigentes e
contribuir para o diálogo cultural entre a Europa e outros continentes. Neste
momento de regozijo, é justo salientar que esta obra complexa foi concretizada nos
prazos fixados - bem apertados, aliás.
Quero,
Sr. Presidente da Câmara, felicitá-lo por isso, incluindo neste voto também todas as equipas, dos
projectistas aos construtores e aos técnicos das mais diversas especialidades da Câmara e da Oficina, que deram o
seu melhor, com empenho total, para que hoje pudéssemos tomar posse de mais um
grande ponto de encontro da cidade.
Por
estes tempos já
detidos que levo de imersão completa na vida de Guimarães, parte do qual em trabalho
estreito com o Dr. António Magalhães, posso testemunhar o quanto a sua liderança esclarecida, a sua
combatividade sem desfalecimento, a sua visão estratégica estão na base da regeneração bem sucedida desta cidade e
da sua projecção
externa.
A Fundação Cidade de Guimarães tem
beneficiado do entendimento do Presidente sobre o papel das políticas públicas
de cultura, suportado na determinação e experiencia e orientação acumuladas em
quem tem dirigido o pelouro da cultura.
Sem a linha directa que soube abrir e
manter, sem a cumplicidade, que se alimenta da análise conjunta dos problemas,
e sem o apoio constante de V. Ex.ª, o meu trabalho e das equipas da Fundação a que tenho a honra de
presidir teria sido muito mais difícil e menos conseguido.
Estas minhas palavras ocultam mais do
que revelam do quanto Guimarães 2012, na difícil conjuntura que vivemos, tem
beneficiado da justa compreensão e, atrevo-me a dizer, da confiança, de V. Ex.ª
no que aqui fazemos, em nome do país e do seu lugar na Europa.
A
Capital Europeia da Cultura está agora a meio da sua trajectória. Sem prejuízo do balanço que será feito oportunamente, creio
poder afirmar que cumprimos tanto aquilo que nos foi pedido como o que nos
comprometemos a fazer.
Agradecendo,
Senhor Ministro da Defesa, a sua presença nesta cerimónia, peço que transmita ao Senhor Primeiro Ministro e ao Governo a
garantia de que, com realismo mas com ambição, enfrentamos dificuldades e congregamos esforços para cumprir o mandato
nacional recebido.
Neste
tempo de perplexidades, de preocupações e de perigos, em que, muitas vezes, o que mais prezamos
parece ameaçado, é altura, em Guimarães, Capital Europeia da
Cultura, de reafirmarmos uma convicção: a de que a crise económica e financeira que a Europa
vive, exige, antes de mais, uma grande resposta cultural – e uma corajosa resposta de
cidadania cultural.
Uma
resposta ousada, ao mesmo tempo fiel à realidade e ao sonho de a tornar melhor.
Sem
essa resposta, nada de humanamente duradouro e profundo poderá ser alcançado. Porque, como disse André Malraux, “a cultura não se herda, conquista-se”.
A tradição mais conservadora nunca
conviveu bem com a mensagem rebelde e insubmissa deste dia. Por isso, pouco
tempo depois, a narrativa dominante foi exaltando a figura de Egas Moniz, em
detrimento da do cavaleiro impiedoso, secundarizando o episódio de S. Mamede, em favor de
batalha de Ourique.
Apenas muitos séculos depois, devemos a Alexandre
Herculano, nesse texto refundador
que é a
sua História
de Portugal,
a devolução a
Guimarães da
sua primazia e a interpretação do acontecimento histórico que aqui se deu mais como
acção
colectiva do que como feito individual.
No romance O Bobo, escrito nos anos 40 do século XIX, num tempo de crise
europeia e de dissidência interna, Herculano considera que outro teria sido o
destino do condado se outro tivesse sido o desfecho de S. Mamede. “Era necessário que no último ocidente da Europa
surgisse um povo, cheio de actividade e vigor, para cuja acção fosse insuficiente o âmbito da terra pátria, um povo de homens de
imaginação
ardente, apaixonados do incógnito, do misterioso, amando balouçar-se no dorso das vagas ou
correr por cima delas envoltos no temporal”. Do campo de
S. Mamede, Herculano avista já o mar dos Descobrimentos.
Para o grande historiador,
cada presente escreve-se com algumas letras do alfabeto do passado. Por isso,
pergunta: e agora? Restar-nos-á alguma coisa mais do que o passado para nos “revocar à energia social”? A essa pergunta, responde: é importante o passado e
devemos estudá-lo e
preservar o património histórico. Mas acrescenta: há outro estímulo fundamental, o da criação artística. “Que a Arte – exorta Herculano - em todas
as suas formas externas represente este nobre pensamento; que o drama, o poema,
o romance sejam sempre um eco das eras poéticas da nossa terra.”
João Serra
sexta-feira, 22 de junho de 2012
Registo
Três
palavras, a primeira das quais para agradecer a presença do Senhor Presidente
da Câmara e dos senhores vereadores, dos senhores membros do Conselho Geral da
Fundação Cidade de Guimarães, dos representantes dos nossos parceiros, dos
senhores convidados, e de todos vós.
Este
é um momento que merece uma especial ênfase, na programação da CEC. Foi
possível com a colaboração de Serralves e quero agradecer à presidência e
direcção desta instituição prestigiada a sua disponibilidade e empenho na
concretização deste projecto.
Uma
palavra muito especial de agradecimento a João Fernandes, curador desta
exposição, a quem aproveito também para felicitar pelas responsabilidades que
vai assumir em breve e que premeia a qualidade e pertinência do seu trabalho e
honra Portugal, designadamente o Portugal que não se deixa encerrar em si
próprio.
A
terceira palavra é para o autor de quem hoje nos orgulhamos de apresentar uma
nova criação, Monsieur Christian Boltanski. Estamos muito honrados também pela
sua presença neste acto formal, bem como pela proximidade com que acompanhou a
montagem da sua obra.
Também
quero agradecer ao Director da Escola de Belas Artes do Porto, Prof. Francisco
Laranjo, a escolha desta ocasião para fazer a entrega da Medalha das Belas
Artes ao artista Christian Boltanski.
Não
vou falar desta criação, pois não é esse o meu encargo e muito menos a minha
competência. Mas permitam-me que evoque, perante esta instalação que nos
interpela tão fundamente, a obra de Raul Brandão.
Não
sei se M. Boltanski conhece o Húmus,
uma espécie de diário escrito em Guimarães, tendo como pano de fundo a cidade e
o tempo da primeira Guerra Mundial. Os paralelismos com esta evocação são tão
fortes, que eu não resisto a ler [numa tradução mais literal que literária].
Aqui não andam só os vivos - andam também
os mortos. A vila é povoada pelos que se agitam numa existência transitória e
baça, e pelos outros que se impõem com se estivessem vivos. Tudo está ligado e
confundido. Sobre as casas há outra edificação, e uma trave ideal que o
caruncho rói une todas as construções vulgares. Sob um grito outro grito, sob
uma pedra outra pedra. Debalde todos os dias repelimos os mortos - todos os
dias os mortos se misturam à nossa vida. E não nos largam.
Eis a vila abjecta, a vila banal onde se
praticam todos os dias as mesmas acções e se repetem todos os dias os mesmos
gestos... Aqui só há um pensamento fundamental: fugir à morte, que é a mais
viva de todas das realidades, que é talvez a única realidade. Protestar, contra
as forças desabaladas, pelo sonho, em espírito ou em pedra, que se erga diante
do Destino e desafie o destino.
O mundo é um grito. Onde encontrar a
harmonia e a calma neste turbilhão infinito e perpétuo, neste movimento atroz?
O mundo é um sonho sem um segundo de paz. A dor gera dor num desespero sem
limites.
Eu não sou nada. Sou um minuto e a
eternidade. Sou os mortos.
Bem sei que isto de ser homem é duma
grande responsabilidade. Tem prós e contras terríveis. Também sei que o que nos
separa dos bichos não é a inteligência. A inteligência é o menos. O que nos
separa dos bichos é o esforço dos vivos e dos mortos, o compromisso de
aceitarmos a mentira como se fosse verdade. O que nos mantém neste inferno é a
arquitectura artificial, é o facto de não nos vermos tal qual somos, baseados numa
convenção que julgamos indestrutível. De não nos vermos a nós e de não os
vermos a eles. Porque o homem por dentro é desconforme. É ele e todos os
mortos. É uma sombra desmedida. Encerra em si a vastidão do universo. Agora
somos fantasmas, somos afinal só fantasmas, e o que construímos não cabe entre
as quatro paredes da matéria.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
segunda-feira, 11 de junho de 2012
António Fonseca e Os Lusíadas
Assisti
à realização do projecto de António Fonseca sobre Os Lusíadas no palco do
Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães. a 9 de Junho passado. Constituiu
para mim uma experiência singular, que me surpreendeu, cativou e emocionou.
No
plano estritamente profissional, assisti e uma performance de elevadíssima
exigência, fundamentalmente credora das capacidades do actor. Dizer os 10
cantos de Os Lusíadas numa sessão contínua implica a mobilização de talentos
excepcionais, longa e persistentemente aplicados, numa preparação que pôs à prova
faculdades as mais diversas de António Fonseca. Desde a assimilação de um texto
muito complexo, até à sedução pela palavra de um publico heterogéneo.
Os
Lusíadas enquanto texto épico e portanto histórico sempre teceu uma relação
especial com períodos críticos da historia nacional. Foi assim, desde logo no
século XVI, no período que se seguiu a Alcácer Quibir, onde o jovem rei D.
Sebastião perdeu a vida. Foi assim, particularmente no século XIX, tanto no
período das invasões francesas e da revolução liberal, como, mais tarde, na
crise do Ultimatum. Há quem entenda que o actual momento esquinado que Portugal
atravessa é propicio a uma releitura de Camões, poeta das crises nacionais e da
sua superação, pelo apelo aos valores de que seria portador o " peito
ilustre lusitano".
Desse
ponto de vista, a encenação do canto X idealizada por António Fonseca é
particularmente interessante. O palco é "invadido" por varias dezenas
de famílias que mediante, um trabalho prévio de interpretação de estrofes e
versos, oferecem aos espectadores emocionados uma leitura partilhada da
derradeira parte do poema.
Quero
testemunhar o enorme apreço de que este trabalho de António Fonseca é
merecedor, tanto pelo aspecto didáctico, ao induzir novas formas de
relacionamento com o texto épico, como pelo aspecto artístico e cultural, ao
expor modalidades também novas de apreensão do texto e dos seus múltiplos
significados.
segunda-feira, 4 de junho de 2012
Um fim de semana especial de Guimarães 2012
À
medida que a programação diversa e plural de Guimarães 2012 vai sendo apresentada,
o efeito de surpresa esbate-se e a excepcionalidade instala-se numa quase
normalidade. A sucessão de estreias performativas, sejam de teatro,música ou dança, de exposições, de debates, de intervenções artísticas multidisciplinares,
apesar de intensa, entrou na rotina, tanto das audiências como dos mediadores.
No plano
comunicacional, que se alimenta da singularidade, a operação de destacar ou hierarquizar
notícias é agora mais difícil. Mas é por isso que me proponho
fazer aqui, fazendo menção aos três acontecimentos que preencheram o meu fim de semana na
Capital Europeia da Cultura. Um especial fim se semana como espero ser capaz de
demonstrar.
Flatland
Redux
Delfim
Sardo reuniu quatro convidados num exercício de reflexão sobre a pintura hoje. O resultado é uma exposição absolutamente fascinante, um
dos pontos altos da programação de arte e arquitectura de Guimarães 2012. Sardo é um dos críticos de arte com um percurso mais sólido, assente numa
conceptualização
informada sobre os caminhos da artes contemporâneas, e os artistas que
escolheu apresentam trabalhos que prendem o olhar e a inteligência de modos diferentes mas
igualmente sedutores.
Sardo
quis vincar que a pintura não desapareceu, que há uma especificidade desta forma de trabalhar a imagem.
Nenhum dos quatro autores coincide na forma como se confronta com a historia
que o precede, nem sequer na técnica ou na problemática que o circunscreve, mas os cruzamentos destas quatro
perspectivas são
infindáveis,
o que torna esta exposição obrigatória.
Margarida
Gil perseguiu um Novais nos olhos e nas mãos de quem com ele privou ou de quem conheceu quem como ele
privou. Os depoimentos falam pouco da personagem histórica, como se o tempo tivesse
feito do homem que atravessou continentes para ser o mais cosmopolita dos
vimaranenses do século
XX, uma espécie
de Flatland. O filme de Margarida é uma bela homenagem no feminino ao Novais de Maria Belo, Flávia Monsaraz, Maria Cabral,
mas não
pode ou não
quis revelar o que as pregas do tempo ocultaram. Este Novais e um personagem do
cinema e não dos
tempos.
Androulla
Vassiliou
Androulla
Vassiliou chegou a Guimarães na tarde chuvosa do dia 2 de Junho, com um programa
arduamente negociado com o seu gabinete, num ambiente de expectativa. Nenhum de
nós conhecia pessoalmente a
Comissária e
o apertado protocolo parecia assinalar um certa formalidade.
A
primeira reunião
teve lugar no Paço dos
Duques, no gabinete do Director gentilmente cedido para o efeito. Após as boas vindas do Senhor
Presidente da Câmara,
entrámos
na matéria:
eu e o Dr. Carlos Martins traçamos os objectivos, as linhas programáticas e os resultados já verificados de Guimarães 2012. Em resposta, a
Senhora Comissária
revelaria de imediato não só o tom em que decorreria o resto da sua visita, como as
qualidades que fazem dela um dos membros mais valiosos da Comissão Europeia, pela sua experiência, pela sua arguta e
fundamentada visão política, pela clareza de propósitos, pela simpatia humana
que coloca nas relações institucionais, pelo conhecimento dos dossiers e pela
rapidez de apreensão das situações encontradas no terreno. Deixando de lado, as palavras
que tinham sido preparadas para a ocasião, Androula Vassiilou reagiu com inteligência à informação que lhe foi prestada,
mostrou um amplo e prévio contacto com informação analisada, e foi calorosa
nas palavras de apoio, de incentivo e de reconhecimento.
Os
restantes passos da visita, que incluíram ainda a abertura da exposição Flatland, um jantar no
centro histórico
com comida tradicional, um concerto no Vila Flor, uma visita à ASA e ao Instituto de Design,
uma breve mas emocionada presença num ensaio da Fundação Orquestra Estúdio, uma conferencia sobre políticas publicas para as artes e
a cultura, declarações à imprensa, deixaram sinais claros de que a aposta de Guimarães 2012 conta com o
acompanhamento e o estimulo próximos da Comissão Europeia.
Quando
estamos prestes a encetar um novo ciclo de programação da CEC e a dobrar o cabo do
primeiro semestre do ano 2012, estes sinais não podem deixar de merecer a
devida valorização.
sexta-feira, 1 de junho de 2012
A inteligência não dá regra
A conduta racional da vida é impossível. A inteligência não dá regra. E então compreendi o que talvez está oculto no mito da Queda: bateu-me no olhar da alma, como um relâmpago batera no do corpo, o terrível e verdadeiro sentido daquela tentação, pela qual Adão comera da Árvore dita da Ciência.
Desde que existe inteligência, toda a vida é impossível.
Fernando Pessoa
Desde que existe inteligência, toda a vida é impossível.
Fernando Pessoa
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