Inauguração da Exposição Angelorum, no Museu Alberto Sampaio
Com esta exposição, todos os espaços programáveis de
Guimarães ficam abrangidos pela Capital Europeia da Cultura, numa demonstração
de vitalidade das instituições e de capacidade de desenhar e planear em rede.
Sem o saber e a experiências das instituições - públicas,
semi-públicas, particulares – a Capital Europeia da Cultura não passaria de um
programa indiferenciado e fugaz. Sem a participação de um grande numero de instituições, os valores do
programa seriam mais circunscritos e a sua projecção no território e nas
pessoas mais limitada.
Queria sublinhar este ponto. Depois do Paço dos Duques, da
Sociedade Martins Sarmento, do São Mamede, do Convívio e do CAR, do Vila Flor e
da Asa, do CAAA e do espaço público, das escolas e do mercado, das lojas e das casas, com o Museu Alberto Sampaio são várias dezenas de espaços, mais de uma
centena, que acolhem a Capital Europeia da Cultura e a mostram aos visitantes.
Quero agradecer à Direcção do Museu Alberto Sampaio, ao seu
director e ao seu pessoal toda a dedicação e competência com que abraçaram este
desafio de trazer a Guimarães 2012 uma boa exposição sobre temas da sua
colecção que é fundamentalmente de arte sacra.
Este agradecimento estende-se aos organismos governamentais da Cultura onde
sempre encontrei a porta aberta para apresentar e discutir os projectos da
Capital Europeia da Cultura.
O tema escolhido foi o da representação do anjo na pintura e
na escultura portuguesas ao longo dos quase mil anos de existência de Portugal.
É um tema riquíssimo, que mobilizou colecções de todo o país, e que se estendeu
até aos nossos dias, com ramificações noutras áreas de expressão, como as artes
gráficas e a fotografia.
A exposição valoriza a colecção do próprio museu, num
diálogo entre peças oriundas de outras colecções e peças próprias e entre peças
da colecção permanente e peças conservadas nas reservas.
Que vemos nós, que viram os homens que nos precederam ao
olhar a representações desses seres mediadores que são os anjos?
Esse seres que a imaginação humana dotou de asas escapam aos
limites da realidade que nos cerca. Enigmáticos ou tutelares, intercessores ou
orientadores, distantes ou porosos, prudentes ou ingénuos, graves ou travessos,
o mundo inventado dos anjos foi o contraponto do mundo paralelo em que vivemos.
Não podemos viver sem eles, os anjos da nosso coração e do
nosso desejo.
Eugénio de Andrade no seu Anjo de Pedra:
“Tinha os olhos abertos mas não via.
O corpo todo era saudade
De alguém que o modelara e não sabia
que o tocara de maio ou claridade.
Parava o seu gesto onde pára tudo:
no limiar das coisas por saber
- e ficara surdo e cego e mudo
para que tudo fosse grave no seu ser.”
Ou no seu Até
Amanhã
“Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
Frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.”
São os anjos que humanizam o espaço, dão sentido ao segredo
e vencem o silêncio.
Como a poesia e a arte em geral.
1 comentário:
Os anjos prestam-se, é certo. Mesmo assim, não é vulgar terminar um discurso ou uma apresentação citando poemas tão belos.
Dizem que os anjos voam porque não se levam a sério... será?
- Isabel X -
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