segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Tempo


[Maio 2012]
No que respeita à relação passado-presente, não mudei verdadeiramente de opinião em relação ao livro que publiquei há 25 anos: Du Passée, Faisons Table Rase? Continuo a pensar que cabe ao presente interrogar o passado. Que o saber sobre o passado não se desenvolve senão a partir das ordenações do presente. A única diferença, mas é de medida, a única correcção no sentido profundo e forte do termo, que gostaria de introduzir no livro, é que foi escrito numa época de idealização, de absolutização, diria mesmo de sublimação do presente. Na excitação do pós-68, vivíamos um momento privilegiado, um momento de charneira, um momento de clic, ou ao menos nós estávamos convencidos disso. Nessa circunstância, fui motivado para pôr em causa a relação entre passado e presente em favor do presente, mas não coloquei de igual modo o problema do futuro. A palavra “futuro” não figura nesse livro e essa é uma lacuna pesada. Leiam o livro do historiador Reinahrt Koselleck [Le Futur Passée. Paris, Gallimard,1990] e vejam como ele insiste sobre a indivisibilidade daquilo a que chama o “campo da experiência” e o “horizonte de espera”. Esta unidade do que V. Jankelévitch, outro autor que frequentei pouco naquela época, designa por a preterização e a futurização, escapava-nos por completo nessa altura. Não éramos capazes de pensar um futuro aberto e incerto. Estávamos fascinados com o presente, é certo. Nesse pequeno livro – Du Passée, faisons table rase? que me valeu os raios de tantas personagens influentes do establishment historiográfico, apesar de incidentalmente vir a descobrir que muitos estudantes, que posteriormente se tornaram meus colegas o tinham lido – não cito uma única vez o nome de Walter Benjamin porque o conhecia mal nessa época. Benjamin sublinha que Copérnico inverte o ponto fixo e o ponto móvel mostrando que o ponto fixo, pelo menos em termos relativos, é o sol e são os planetas que andam à volta dele. Do mesmo modo, é o presente que faz o papel de ponto fixo, relativamente porque evolui, e o passado, diz Benjamin, deve entrar em constelação com o presente.

"Le Temps et l' Histoire. Entretien avec Jean Chesneaux", por Bensa Alban, Noiriel Gérard. In Gènesis, nº 29, 1997.
[Fev. 2009]
Jean Chesneaux (1922-2007). Bibliografia:


Le Mouvement ouvrier chinois de 1919 à 1927, Mouton, 1962
. Introduction aux études d'histoire contemporaine de Chine, 1898-1949 (avec John Lust), Maison des Sciences de l'Homme, 1964
. L'Asie orientale aux xixe et xxe siècles, PUF, 1966.
.Une lecture politique de Jules Verne, Maspero, 1971.
. Le mouvement paysan chinois 1840-1949, Le Seuil, 1976.
. Du passé, faisons table rase ? À propos de l'histoire et des historiens, Maspero, 1976.
. Le PCF, un art de vivre, Maurice Nadeau, 1980.
. En avant vers de nouvelles aventures. Dix années de luttes populaires en bandes dessinées, (en collaboration), Millau, ed. Larzac université, 1980
De la modernité, La Découverte, 1983.
. Modernité-Monde. Brave Modern World, La Découverte, 1989.
. Habiter le temps, Bayard Culture, 1996.
. Carnets de Chine - Voyager Avec, Quinzaine Littéraire/Louis Vuitton, 1999
. L'art du voyage Un regard plutôt politique sur l'autre et l'ailleurs, Bayard Culture, 1999.
. L'engagement des intellectuels 1944-2004, Itinéraire d'un historien franc-tireur, Bibliothèque historique, Privat, 2004.

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