Na Cidade Baixa, nos grandes centros, as cervejarias e cafés transbordam sempre de clientela. O ar sobreaquecido, denso de fumo e exalações, pode cortar-se à faca. Há música e alegria. Mas nos altos, em Uccle, em Ixelles, e lá para o Cinquantenaire, quando pára um autocarro nalgum pequeno square deserto, afogado em brumas, escassamente iluminado, os passageiros desaparecem, correndo como ratos, em todas as direcções. Vive-se, é isso mesmo, como sob um cerco. Até em casa se está inquieto. Fica-se até tarde pelos cafés, na conversa ou jogando e fazendo despesa, no temor de regressar...
A neblina flutua e ondula nos telhados, a neblina encobridora, propícia a monstros e vampiros. Sabe bem agora estar no quente, enterrado numa poltrona, com os pés arrimados ao fogão, de cachimbo nos dentes, no sossego do lar.
Antes de ir para a cama, toda a gente pergunta, como no tempo da Guerra dos Trinta Anos:
"Fecharam bem as portas e janelas? Está tudo trancado?"
José Rodrigues Migueis, Uma Aventura Inquietante. Aliança, Estúdios Cor, 1959.
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
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