Os que estão no meio, entre os simples e os excelentes (e que são a maioria dos historiadores), esses, estragam-nos tudo: querem entregar-nos os bocados por eles mastigados; arrogam-se o direito de julgar, e , por conseguinte, o de moldar a História à sua concepção, pois desde que o juízo penda para um lado, não se pode evitar que se desvie e enviese a narração nessa direcção. intentam eles escolher as coisas dignas de serem sabidas, e, amiúde, escondem-nos algumas das falas ou acções privadas que melhores esclarecimentos nos poderiam fornecer; omitem como incríveis as coisas que não compreendem e, porventura, outras ainda, por não as dizer em bom latim ou em bom francês.
Exibam descaradamente a sua eloquência e as suas razões a façam juízos a seu talante, mas deixem-nos com que julgar depois deles, e não alterem nem manipulem, através das suas abreviações e escolhas, nada do essencial da matéria. Antes, transmitam-na intacta e inteira em todas as suas dimensões!
Montaigne, Ensaios. Antologia. Lisboa, Relógio d´Água, 1998, p. 194.
Nota:
- Hoje (Montaigne publicou os Ensaios em 1580 e 1588) talvez o autor se referisse em primeiro lugar aos jornalistas
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
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