Também fiz, com a Benedita, uma excursão ao Minho e Douro, que eu não via há muitos anos. Esta nossa terra é sem dúvida a obra-prima do grande paisagista que está nos Céus. Que beleza! E tudo toma o doce estilo da Écloga. Tudo canta. Cantam, trabalhando, cavadores e ceifeiras, até canta o caro de bois, o velho carro do Latium, levando o mato pelas azinhagas!... O pior são as camas, nas hospedarias. Mas em compensação que maravilhosas caçoilas de arroz, e que divinos anhos pascais assados no forno! Não posso compreender como este é um país falido. Em toda a parte onde estive não vi um palmo de chão onde se pudesse assentar o pé sem perigo de esmagar uma semente. As flores silvestres, não tendo já onde florir, procuram refúgio nos telhados. A terra toda parece prenhe de pão. E no ar tudo é vinha e azeitona em flor... com mil bombas! Isto parece uma epístola de desembargador do século XVIII, cantando em verso, solto e grave, a felicidade dos campos!
Carta de Eça de Queirós a Eduardo Prado. Datada de Porto, 29 de Maio de 1892.
In Beatriz Berrini, Brasil e Portugal: a Geração de 70. Porto, Campo das Letras, 2003. P. 136
domingo, 17 de julho de 2011
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