21 de Julho de 1970
Ontem já houve ensaio do Requiem no Teatro de S. Carlos, com a orquestra da Emissora e o Coro de S. Carlos.
- De quem é o Requiem? - perguntei eu ao Júlio Salgado que foi quem me deu a notícia do ensaio
- De Frederico de Freitas, segundo creio. Pelo menos, na outra vez que o Salazar esteve a morrer, o Requiem era dele. Teve um trabalhão para nada.
E não resistiu a fazer caricatura:
- O Frederico - coitado! - andava ansioso na Brasileira à espera que o Salazar morresse.
É mentira, claro. Pois o Salgado acrescentou logo, a deitar água na fervura:
- E para não parecer mal, de vez em quando dizia: "Ainda bem, ainda bem que se salvou!"
A má língua habitual.
José Gomes Ferreira, Dias Comuns IX. Derrota Pairante (Lisboa, 1 de Fevereiro de 1970 a 20 de Setembro de 1970).
In José Gomes Ferreira: Música, Minha Antiga Companheira Desde os Ouvidos da Infância. Antologia. Porto, Campo das Letras, 2003, p. 177-178.
Nota: Oliveira Salazar morreu a 27 de Julho de 1970.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
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2 comentários:
Mais do que uma "morte anunciada", é de uma "morte ensaiada" que se trata aqui, e não só em termos musicais.
Uma morte por etapas, diferida, tal como ocorreu. A morte ficou pairando; a música composta para a ocasião também.
É sempre estranha a sensação de que as coisas estão a ponto de acontecerem.
- Isabel X -
Uma anedota engraçada, de facto. Mas julgo que Frederico de Freitas não compôs nenhum requiem.
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