sábado, 31 de julho de 2010
Triunfaron los animales
Peço emprestado o título com que El Mundo noticiou a votação pelo Parlamento da Catalunha da rejeição da Lei que permitia a lide e morte de touros, para saudar a decisão da Câmara Municipal de Guimarães de erradicar a tourada das festas gualterianas.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Cinema de bairro
Ontem no Paço dos Duques, uma iniciativa da Área de Comunidade da Capital Europeia da Cultura, Guimarães 2012.
Cá dentro
Mais um candidato ao tormento de reunir 7500 assinaturas a validar pelo Tribunal Constitucional.
A tranquilidade está em alta nos locais onde fará férias aquele que aconselha a fazê-las cá dentro.
A tranquilidade está em alta nos locais onde fará férias aquele que aconselha a fazê-las cá dentro.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Pelo "locutório" contra o "face"
Com ironia, Ramon Munõz terça armas contra o Facebook. Para ele, o locutório (cabines de internet, uma alternativa para os sem-modem) vai vencer essa rede social "hipócrita".
Facebook es una impostura porque sus miembros se empeñan en diluirse en un magma de aceptabilidad social que pervierte todas las relaciones. En lugar de acercar, aleja. ¿Alguna amiga facebookera podría proclamar a los cuatro vientos en su muro ante un desengaño amoroso: "Me ha dejado por otra. Sin avisar. Follaba bien y amaba mejor. Me duele el coño y el corazón a partes iguales". Sería expulsada inmediatamente, vetada por inconveniente. Los sentimientos reales, fieros como el cáncer, no tienen acomodo en este mundo virtual de pocoyos egocéntricos y ñoños.
Texto completo aqui.
Facebook es una impostura porque sus miembros se empeñan en diluirse en un magma de aceptabilidad social que pervierte todas las relaciones. En lugar de acercar, aleja. ¿Alguna amiga facebookera podría proclamar a los cuatro vientos en su muro ante un desengaño amoroso: "Me ha dejado por otra. Sin avisar. Follaba bien y amaba mejor. Me duele el coño y el corazón a partes iguales". Sería expulsada inmediatamente, vetada por inconveniente. Los sentimientos reales, fieros como el cáncer, no tienen acomodo en este mundo virtual de pocoyos egocéntricos y ñoños.
Texto completo aqui.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Em granito
Marques da Silva (1869-1947) começou a projectar a Penha em 1929. Nesse ano ocupou-se da ampliação do Largo Pio IX. No ano seguinte, surgiu a encomenda de um Santuário. “Gostava de fazer qualquer coisa de próprio e adequado, de expressivo e moderno. Precisaria de ser um edifício com carácter muito particular, muito próprio da situação que ocupa e muito especial para que pudesse ser visitado com interesse igual ao que arrasta lá acima à montanha da Penha os que vão admirar e estranhar a Natureza, ante uma Natureza estranha”.
As obras, apesar de iniciadas em 1931, só vieram a ser concluídas em 1947.
Vide André Tavares. Em Granito. A Arquitectura de Marques da Silva em Guimarães. Porto, Fundação Instituto José Marques da Silva, 2010.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Opera
Na Praça do Oriente, em Madrid, para ver, em écran gigante, uma ópera (Giuseppe Verdi, Simon Boccanegra) com Placido Domingo. Na época do Ipod, também precisamos de estar juntos para sentir a emoção estética.
domingo, 25 de julho de 2010
Sonho de uma noite de Verão
A perspectiva de que uma poção mágica pode levar alguém a apaixonar-se pela primeira pessoa que encontra é tão aterradora como a de que, por efeito de outra poção, é possível desfazer aquele equívoco e a todos garantir que amarão as pessoas certas e serão por elas amados.
sábado, 24 de julho de 2010
Venho de dentro...
Venho de dentro, abriu-se a porta...
Venho de dentro, abriu-se a porta:
nem todas as horas do dia e da noite
me darão para olhar de nascente
a poente e pelo meio as ilhas.
Há um jogo de relâmpagos sobre o mundo
de só imaginá-la a luz fulmina-me,
na outra face ainda é sombra
Banhos de sol
nas primeiras areias da manhã
Mansidões na pele e do labirinto só
a convulsa circunvolução do corpo.
Luiza Neto Jorge
A Lume. Poesia. Organização e prefácio de Fernando Cabral Martins. Lisboa, Assírio & Alvim.
2ª edição, 2001
Venho de dentro, abriu-se a porta:
nem todas as horas do dia e da noite
me darão para olhar de nascente
a poente e pelo meio as ilhas.
Há um jogo de relâmpagos sobre o mundo
de só imaginá-la a luz fulmina-me,
na outra face ainda é sombra
Banhos de sol
nas primeiras areias da manhã
Mansidões na pele e do labirinto só
a convulsa circunvolução do corpo.
Luiza Neto Jorge
A Lume. Poesia. Organização e prefácio de Fernando Cabral Martins. Lisboa, Assírio & Alvim.
2ª edição, 2001
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Mais Presidente, menos PSD
Como explica Medeiros Ferreira no Correio da Manhã de hoje, a presidencialização do regime, apontada na proposta de revisão constitucional do PSD nem é pertinente nem exequível.
Uma proposta de revisão constitucional liderada por Paulo Teixeira Pinto também não é crível.
Uma proposta de revisão constitucional liderada por Paulo Teixeira Pinto também não é crível.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Familias nas festas de S. Gualter
As famílias dominam as barracas de comes e bebes que povoam a cidade nestes tempos de antecipação das Festas Gualterianas. Familia Oliveira e Família Brunati disputam o mercado das farturas e derivados. Os Zés dominam o das bifanas e pão com chouriço. E, a julgar pelas filas permanentemente formadas junto deste pavilhão caldense, tais produtos têm um êxito fora de qualquer explicação.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Caminante, no hay camino, se hace camino al andar
Joan Manuel Serrat, Prémio Nacional de Cultura de Espanha, 2010.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Babel
Ontem quis aceder a um dos meus endereços electrónicos através do webmail. Desgraçadamente, porém, não consegui recordar a password nem sequer como recuperá-la. Isto começa a acontecer-me com frequência cada vez maior. Desde 1993 que uso cartão multibanco (hoje tenho dois) e tenho conseguido gerir com ou outro sobressalto a sequência de números que me permite aceder às contas bancárias. Nunca porém encontrei forma de me conciliar como o número do cartão de crédito. No acesso às contas via internet também tenho sido um fracasso. Em contrapartida, lá me fui equilibrando nas contas de mail, suprimindo as antigas e reconvertendo as passwords de uma forma que, até ontem, me parecia inteligente. Com a crescente exigência de identificação através de logins e passwords no ciberespaço, sinto-me cada vez mais perdido e esmagado. Todas as entidades que vendem na net me pedem esses dados: das lojas de informática às livrarias, das prestadoras de serviços, como as operadoras de telemóveis, às leiloeiras, aos jornais e centros de documentação e fornecedoras de bases de dados.
Alguém conhece uma forma simples e eficaz de lidar com esta babel?
Alguém conhece uma forma simples e eficaz de lidar com esta babel?
domingo, 18 de julho de 2010
Onde ou quando nasceu Afonso?
Pelo que ficou dito, constata-se a sobrevivência, até aos nossos dias, das duas tradições surgidas em finais do século XII. As divergências de um ano para mais ou para menos, entre as diferentes fontes associadas a cada um dos dois ramos, resultam dos problemas de transmissão textual, da complexidade e da confusão entre os diferentes métodos de cálculo de datas utilizados, num tempo em que não havia calendários. Em todo caso, não encontramos argumentos que nos levem a rejeitar a hipótese de D. Afonso Henriques ter nascido em 1106, conforme se deduz da Vita Theotonii, que elegemos neste trabalho como a primeira e melhor das fontes narrativas. Tendo morrido a 6 de Dezembro de 1185, o nosso primeiro rei terá vivido o mesmo número de anos que o santo a que ficou indelevelmente ligado: inter LXXª annos et LXXXª, iusta ordinem Scripturarum.
ESTEFÂNIO, Abel – “A data de nascimento de Afonso I”. Medievalista [Em linha]. Nº8, (Julho de 2010). Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA8\estefanio8002.html.
ISSN 1646-740X.
ESTEFÂNIO, Abel – “A data de nascimento de Afonso I”. Medievalista [Em linha]. Nº8, (Julho de 2010). Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA8\estefanio8002.html.
ISSN 1646-740X.
sábado, 17 de julho de 2010
Comemorações e História
José Mattoso:
As comemorações históricas não precisam de excluir celebrações ou deixar de promover eventos culturais quando a realidade histórica dos factos em causa ou a sua relação com as entidades que as promovem não estão suficientemente demonstradas. Com efeito, o que neste caso é censurável, não são as celebrações comemorativas do centenário de Afonso Henriques por Viseu ou por Guimarães, mas a reivindicação do direito exclusivo a fazê-las. No caso vertente, a relação de Afonso Henriques com qualquer lugar do país é razão suficiente para não serem precisas mais justificações. O que aqui se condena, não é isso, mas a ignorância do que é a «verdade histórica». O que aqui se pretende, é mostrar o que é necessário para poder usá-la como conceito cultural.
MATTOSO, José - «Editorial». Medievalista [Em linha]. Nº8, (Julho de 2010). Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA8\editorial8001.html.
ISSN 1646-740X.
As comemorações históricas não precisam de excluir celebrações ou deixar de promover eventos culturais quando a realidade histórica dos factos em causa ou a sua relação com as entidades que as promovem não estão suficientemente demonstradas. Com efeito, o que neste caso é censurável, não são as celebrações comemorativas do centenário de Afonso Henriques por Viseu ou por Guimarães, mas a reivindicação do direito exclusivo a fazê-las. No caso vertente, a relação de Afonso Henriques com qualquer lugar do país é razão suficiente para não serem precisas mais justificações. O que aqui se condena, não é isso, mas a ignorância do que é a «verdade histórica». O que aqui se pretende, é mostrar o que é necessário para poder usá-la como conceito cultural.
MATTOSO, José - «Editorial». Medievalista [Em linha]. Nº8, (Julho de 2010). Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA8\editorial8001.html.
ISSN 1646-740X.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Cidadãos e direitos
Hoje de manhã, nas Caldas da Rainha: 3ª Conferência "A construção da Carta dos Direitos do Idoso", uma iniciativa do Centro Social Paroquial de Santa Catarina animada pela Dr.ª Laura Martinho, Directora Técnica do Centro.
Sessão de abertura: todos os intervenientes se reportam à mudança de prioridade das políticas sociais, da criança para o idoso, o que parece ser uma consequência da mudança de padrão demográfico. Mas não deixa de ser inquietante que os direitos do cidadão, consagrados pela revolução francesa no século XVIII, continuem a suscitar extensões imperiosas para as crianças e os idosos, como se a evolução dos costumes não tivesse sabido compensar as vulnerabilidades biológicas próprias dos mais novos e dos mais velhos.
A minha breve intervenção convocou o tema da incongruência entre uma cultura que elegeu a juventude como ponto de aplicação da criatividade humana precisamente no momento em que a esperança média de vida aumentou e as categorias sociais mais abertas ao papel do conhecimento e da inovação abarcam faixas etárias cada vez mais afastadas dos 20/30 anos.
Sessão de abertura: todos os intervenientes se reportam à mudança de prioridade das políticas sociais, da criança para o idoso, o que parece ser uma consequência da mudança de padrão demográfico. Mas não deixa de ser inquietante que os direitos do cidadão, consagrados pela revolução francesa no século XVIII, continuem a suscitar extensões imperiosas para as crianças e os idosos, como se a evolução dos costumes não tivesse sabido compensar as vulnerabilidades biológicas próprias dos mais novos e dos mais velhos.
A minha breve intervenção convocou o tema da incongruência entre uma cultura que elegeu a juventude como ponto de aplicação da criatividade humana precisamente no momento em que a esperança média de vida aumentou e as categorias sociais mais abertas ao papel do conhecimento e da inovação abarcam faixas etárias cada vez mais afastadas dos 20/30 anos.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Um excesso de luz...
Navegaciones
I
recuerdo vagamente
que comenzaba el frío del otoño
o quizá se tratase del estremecimiento
de despertar de pronto junto a un cuerpo dormido
recuerdo el gorjeo del mirlo en el jardín
pero ¿cómo recordar si era él quien cantaba?
II
una apacible máscara
niega saber que un labio son cien labios
cuanto el aire corrompe
con indiferencia con obstinación
igualmente real
tu nombre pide un desenlace
un poco de la blancura con que los ojos entreabren
tras la vitrina por azar la lluvia
la luz indecisa goteando sobre un hombre que pasa
hace tiempo y lo sé
tal vez perduren todavía
la forma de mis pasos
un gesto sin memoria por algún lugar
III
¿me reconoces aire
bajo la corteza de las palabras en que fui?
mi voz navega sin vacilaciones
en un paisaje de sonidos
tiempo tú puro espacio
en este mediodía que duerme
el agua dice soy
un exceso de luz
vuelve tu cielo inhabitable.
Jenaro Talens
Otra escena/Profanación(es), Madrid, Hiperión, 1980.
I
recuerdo vagamente
que comenzaba el frío del otoño
o quizá se tratase del estremecimiento
de despertar de pronto junto a un cuerpo dormido
recuerdo el gorjeo del mirlo en el jardín
pero ¿cómo recordar si era él quien cantaba?
II
una apacible máscara
niega saber que un labio son cien labios
cuanto el aire corrompe
con indiferencia con obstinación
igualmente real
tu nombre pide un desenlace
un poco de la blancura con que los ojos entreabren
tras la vitrina por azar la lluvia
la luz indecisa goteando sobre un hombre que pasa
hace tiempo y lo sé
tal vez perduren todavía
la forma de mis pasos
un gesto sin memoria por algún lugar
III
¿me reconoces aire
bajo la corteza de las palabras en que fui?
mi voz navega sin vacilaciones
en un paisaje de sonidos
tiempo tú puro espacio
en este mediodía que duerme
el agua dice soy
un exceso de luz
vuelve tu cielo inhabitable.
Jenaro Talens
Otra escena/Profanación(es), Madrid, Hiperión, 1980.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
À janela de José Manuel Ballester
José Emanuel Ballester (Madrid, 1960) é formado em artes plásticas pela Universidade Complutense de Madrid. Iniciou sua carreira como pintor e gravador. A sua primeira exposição individual foi em 1987, no teatro Albéniz (Madrid). Desde então, tem realizado diversas exposições com destaque para as do Museo Nacional Reina Sofía e do Instituto Valenciano de Arte Moderna, em Madrid, ambas no ano de 2005. Está representado em importantes coleções como a Fundación la Caixa, em Barcelona, o Museu de Arte de Miami (MAM), o Centro Contemporâneo da Cidade de Barcelona (CCCB), a Cisneros Fontanal Art Fundation, entre outros.
O edifício Copan, em São Paulo, aqui fotografado por Ballester, é um projecto de Oscar Niemeyer, dos anos 50. Actualmente compõe-se de 72 lojas e 1160 apartamentos. Confira aqui.
terça-feira, 13 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
domingo, 11 de julho de 2010
sábado, 10 de julho de 2010
No Linhal da Corredoura. 8 - Espadelada. 9 - Arrestelado. 10 - Assedado. 11- Fiada
Espadelar: retirar as partes mais grosseiras e lenhosas da preparação anterior. Arrestelar: fazer passar o linho pelo restelo, uma tábua com pregos, para remover arestas. Assedelar: obter um fio ainda mais fino, passando o linho pelo sedeiro, uma tábua com picos finos. Fiar: com recurso a rocas, fusos e sarilhos, criar fio e torcê-lo para o enovelar.
No Linhal da Corredoura. 5 - Secagem. 6 - Malhada. 7 - Engenho e moagem
Outros nove dias ficará o linho, depois de enterrado, a secar no campo, posto o que é levado para a eira onde é malhado por conjunto de quatro homens, um par de cada lado. A estas operações não assistimos no dia 3 de Julho. Após o enterro do linho, rumámos ao local onde o Grupo da Corredoura tem o seu engenho. Desatrelados do carro, os bois são engatados ao engenho e comandados por dois homens, à frente e atrás da junta. A moagem não é uma operação exclusivamente mecânica. As maças obtidas da moagem, com dois a três metros de comprimento, exigem a presença do homem que com as mãos e os braços acompanha o trabalho do engenho. Como se pode ver nas fotografias.
No Linhal da Corredoura. 3 - Em molhada. 4 - Enterrado
Depois de ripado, o linho é atado em molhos e de novo o carro de bois é chamado ao seu transporte. Vai agora até ao rio ou levada (neste caso um tanque) onde é enterrado, ou seja submerso. Tábuas e pedras ajudam a mantê-lo durante nove dias em curtimenta.
No Linhal da Corredoura. 2 - Ripada
sexta-feira, 9 de julho de 2010
No Linhal da Corredoura. 1 - Arrancada
As operações do linho eram complexas e exigentes. O Grupo Folclórico da Corredoura, a exemplo de outros grupos etnográficos do Minho, procura manter a tradição medieval do trabalho do linho ou bragal.
O campo de linho era lavrado, gradado e engaçado para receber a semente (linhaça) em Março ou Abril. Dez dias após a sementeira, levava a primeira rega, seguindo-se uma rega quinzenal. A colheita era efectuada no princípio do mês de Julho.
O Grupo da Corredoura faz a "arrancada" na tarde de Sábado da Romaria Grande de S. Torcato: este ano a 3 de Julho. O trabalho é realizado por homens e mulheres trajados com o traje do Grupo. Mas há quem assista e não resista a dar um ajuda. Sobretudo mulheres, que a elas pertencem as tarefas principais desta lida. Depois da colheita e enquanto os homens carregam o carro de bois, há quem cate e dance. Os músicos do Grupo acompanham.
O campo de linho era lavrado, gradado e engaçado para receber a semente (linhaça) em Março ou Abril. Dez dias após a sementeira, levava a primeira rega, seguindo-se uma rega quinzenal. A colheita era efectuada no princípio do mês de Julho.
O Grupo da Corredoura faz a "arrancada" na tarde de Sábado da Romaria Grande de S. Torcato: este ano a 3 de Julho. O trabalho é realizado por homens e mulheres trajados com o traje do Grupo. Mas há quem assista e não resista a dar um ajuda. Sobretudo mulheres, que a elas pertencem as tarefas principais desta lida. Depois da colheita e enquanto os homens carregam o carro de bois, há quem cate e dance. Os músicos do Grupo acompanham.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Planos e projectos
Fui hoje visitar a exposição "República na Cidade" ontem inaugurada. Num espaço tão limitado é difícil concentrar uma informação tão rica e diversificada. A sábia utilização das novas tecnologias e do design põe em evidência a importância do arquivo na preservação da memória e da investigação histórica para um entendimento da cidade. Afinal as cidades têm uma história, as ruas e praças já tiveram outras designações e até traços, outros, antes de nós, pensaram os espaços e os problemas, tentaram dar forma aos sonhos e necessidades de quem nelas vivia e viveria.
Reportagem da inauguração: pode ser vista e ouvida aqui.
Reportagem da inauguração: pode ser vista e ouvida aqui.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Sei lá!
De vez em quando esbarrava nas árvores e candeeiros públicos.
Por este simples motivo: o de me esquecer de olhar para o caminho, afundado em meditações desta espécie:
Personalidade? Que significa essa história de ter, ou de não ter, personalidade? Existe alguma fórmula de elixir secreto ou qualquer aparelho de delicadeza pesquisadora especial que nos permita determinar imediatamente, sem receio de nos enganarmos, se alguém possui esse dom misterioso? Um certo azul nos olhos? O queixo levantado? A maneira majestosa de subir para o autocarro? Ou de entrar nos apertões do Metro, afastando com os dedos, em piparote, a muralha de pedras vivas que impede a passagem para os corredores vazios? Certos raios magnéticos com que as mulheres nos fulminam, obrigando a agachar os homens até ao destino de capachos? As jubas de leões invisíveis de certos calvos hieráticos? O silêncio sistemático do Pacheco de Eça? As palavras ocamente acrobatas de certos frequentadores de salas e bares?
Sei lá!
José Gomes Ferreira, Calçada do Sol. Diário Desgrenhado de um Homem Qualquer Nascido no Princípio do Século XX. Lisboa, Livraria Morais, 1983.p. 71
Por este simples motivo: o de me esquecer de olhar para o caminho, afundado em meditações desta espécie:
Personalidade? Que significa essa história de ter, ou de não ter, personalidade? Existe alguma fórmula de elixir secreto ou qualquer aparelho de delicadeza pesquisadora especial que nos permita determinar imediatamente, sem receio de nos enganarmos, se alguém possui esse dom misterioso? Um certo azul nos olhos? O queixo levantado? A maneira majestosa de subir para o autocarro? Ou de entrar nos apertões do Metro, afastando com os dedos, em piparote, a muralha de pedras vivas que impede a passagem para os corredores vazios? Certos raios magnéticos com que as mulheres nos fulminam, obrigando a agachar os homens até ao destino de capachos? As jubas de leões invisíveis de certos calvos hieráticos? O silêncio sistemático do Pacheco de Eça? As palavras ocamente acrobatas de certos frequentadores de salas e bares?
Sei lá!
José Gomes Ferreira, Calçada do Sol. Diário Desgrenhado de um Homem Qualquer Nascido no Princípio do Século XX. Lisboa, Livraria Morais, 1983.p. 71
José Gomes Ferreira retratado por Mário Dionísio
terça-feira, 6 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
No Linhal
sábado, 3 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Fechada a janela por obediência
Cerce era a vigilância dos avós nos tempos que ali viveu, em ausências da mãe, a ares, sarando quanto possível a memória perdida do filho, e tinham eles mil olhos alerta plantados ao longo das ruas da cidade, debruçando-se dos peitoris das janelas que a salinidade desgastara, ou quem sabe se, por gasto nos habitantes o entusiasmo, já nem os prédios ganhavam forças para se alindar, vestirem roupagens novas de demão de tinta nas empenas e nos ferros forjados das varandas de sacada: e parece que assim viu quem por lá passou recentemente, é como se todos tivessem morrido, mesmo os que não morreram, sem vestígios. E Augusta Rosa todos os dias:
sai daí, menina, que elas estão a vir por aí acima, essas mulheres ordinárias do peixe, só dizem palavrões e metidas com os homens todos cá da rua, e depois esse fedor que trazem, já te disse centenas de vezes que fechasses a janela, vem imediatamente para dentro,
verdade que às vezes iam em conversa desbragada, as operárias, mas era da alegria que traziam findo o dia, subindo a rua em avalanchas, as mãos e pés roxos do frio, parca roupa a envolvê-las, e o alto vozear impressionava, esses risos soltos que nem a miséria cerceava, as casas esquálidas aguardando na periferia, lenços amarrados na nuca, avantajados aventais de riscado, chinelos cambados, pernas de varizes, mãos que as espinhas e as escamas e a soda cáustica corroíam, e tudo Sara esmiuçando por detrás dos vidros, fechada a janela por obediência, o nariz esborrachado esquadrinhando a torrente que passava em baixo, invadindo o alcatrão e arrepanhando em esgares as caras dos machos à espreita, lúbricos, que o dia todo levavam às soleiras ou arremedando biscates.
Wanda Ramos, As Incontáveis Vésperas. Lisboa. Ulmeiro, 1983. p. 97-98.
Wanda Ramos nasceu em Angola (Dundo) em 1948 e morreu em Lisboa, com 50 anos. Publicou o primeiro livro, Nas Coxas do Tempo (poesia) em 1970. Em 1968, constituíra para os organizadores da II Antologia da Poesia Universitária Portuguesa, de que fiz parte, a grande revelação. Era então aluna da Faculdade de Letras de Lisboa, do Curso de Filologia Germânica. Foi professora e tradutora, membro da Direcção da Associação de Escritores Portugueses. Publicou diversos livros, entre os quais Percursos (do Luachimo ao Luena) , em 1981, obra que recebeu um prémio literário.
sai daí, menina, que elas estão a vir por aí acima, essas mulheres ordinárias do peixe, só dizem palavrões e metidas com os homens todos cá da rua, e depois esse fedor que trazem, já te disse centenas de vezes que fechasses a janela, vem imediatamente para dentro,
verdade que às vezes iam em conversa desbragada, as operárias, mas era da alegria que traziam findo o dia, subindo a rua em avalanchas, as mãos e pés roxos do frio, parca roupa a envolvê-las, e o alto vozear impressionava, esses risos soltos que nem a miséria cerceava, as casas esquálidas aguardando na periferia, lenços amarrados na nuca, avantajados aventais de riscado, chinelos cambados, pernas de varizes, mãos que as espinhas e as escamas e a soda cáustica corroíam, e tudo Sara esmiuçando por detrás dos vidros, fechada a janela por obediência, o nariz esborrachado esquadrinhando a torrente que passava em baixo, invadindo o alcatrão e arrepanhando em esgares as caras dos machos à espreita, lúbricos, que o dia todo levavam às soleiras ou arremedando biscates.
Wanda Ramos, As Incontáveis Vésperas. Lisboa. Ulmeiro, 1983. p. 97-98.
Wanda Ramos nasceu em Angola (Dundo) em 1948 e morreu em Lisboa, com 50 anos. Publicou o primeiro livro, Nas Coxas do Tempo (poesia) em 1970. Em 1968, constituíra para os organizadores da II Antologia da Poesia Universitária Portuguesa, de que fiz parte, a grande revelação. Era então aluna da Faculdade de Letras de Lisboa, do Curso de Filologia Germânica. Foi professora e tradutora, membro da Direcção da Associação de Escritores Portugueses. Publicou diversos livros, entre os quais Percursos (do Luachimo ao Luena) , em 1981, obra que recebeu um prémio literário.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Profecias
Outra vez velhos e velhas se sentarão
nas praças desertas de Jerusalém
Cada um traz apoiada em seu bordão
uma avançada idade
Outra vez a cidade conhecerá
o riso de meninas e meninos
brincando pelas praças
Zacarias
Rosa do Mundo. 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001.
p. 284
nas praças desertas de Jerusalém
Cada um traz apoiada em seu bordão
uma avançada idade
Outra vez a cidade conhecerá
o riso de meninas e meninos
brincando pelas praças
Zacarias
Rosa do Mundo. 2001 Poemas para o Futuro, Lisboa, Assírio & Alvim, 2001.
p. 284
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