A rua da Estrada é o resultado da urbanização apressada onde o rural e o urbano formam um compósito fragmentário. A rua da estrada é uma metáfora do urbanismo improvisado que caracterizou a ocupação do território nas últimas décadas. Álvaro Domingues coligiu neste livro surpreendente as provas da cidade ordinária, centrífuga, entrópica, dos espaços transgénicos que assentam no fim da cidade e do campo, ou melhor, do fim da cidade/campo. A rua da Estrada não tem passeios como as ruas nem bermas como as estradas, tem escombros e publicidade, tem casas e lojas, animais de pedra e vendas de produtos agrícolas, tem floreiras e fios em profusão, tem sinalética contraditória e confusa, restos de casas antigas, barracas e casas de emigrantes, automóveis e contentores, restaurantes e vendas as mais extraordinárias, locais votivos e montras. A rua da Estrada é mercado, habitação, indústria e serviço, é comunicação e mobilidade. É fluxo permanente, lá onde os limites estão mal definidos. É tudo o que não gostamos na cidade. Mas é a primeira imagem da cidade.
Nota de leitura da obra de Álvaro Domingues, A Rua da Estrada. Porto, Dafne Editora, 2009.
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