sexta-feira, 12 de março de 2010
O professor, a escola
Um professor de musica pôs termo à vida. Segundo a imprensa, confessou não conseguir lidar com o desrespeito dos seus alunos. Espero que este não seja mais um pretexto para continuar a discutir ao lado da questão, isto é da escola e da sua organização.
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12 comentários:
Agradeço~lhe muito este post, João. É um assunto difícil de abordar. Aqui está uma abordagem pertinente, subtil e corajosa.
Se já nem a morte de alguém (um professor) que se suicida merece respeito... então tudo, mas mesmo tudo, pode servir de pretexto para tratar as questões da escola de modo enviesado, ao lado.
Triunfo da mais fria insensibilidade, mascarada de grande causa moral. É o que mais me arrepia: quando se faz tanto mal, ao mesmo tempo que se invocam grandes princípios morais.
- Isabel X -
...e, contudo, é extraordinário que se esteja já a tentar tudo por tudo para não abordar nenhuma das questões que este pesadelo impõe como inadiáveis.
Viva caro João.
Tenho tido pouco tempo para a rede. Até mesmo a escrita no meu blogue é-me mais difícil.
Comento pouco por aqui mas leio os posts todos.
Este seu pequeno texto diz o essencial: é
incompreensível ver as desastrosas (isso está mais do que comprovado) políticas do anterior governo por revogar e a escola pública a arrastar-se de forma dolorosa. Dá ideia que o mau perder é também uma obstinação.
Entretanto, os acontecimentos que têm origem na indisciplina e no bullying ganham espaço mediático para deleite de ambos os lados. Embora, como foi agora o caso, não possamos fazer de conta que nada aconteceu. Este seu post é prova disso.
Aquele abraço.
Sempre houve (e haverá) violência. Na escola, como na família; na praça pública como no recato da privacidade. E não menos que agora, ao contrário do que o megafone da "comunicação de massas" pode fazer crer. Na cultura ambígua e equívoca que elegemos, porém, a violência deixou de ter culpados (e de aí ser combatida) para ter apenas vítimas - mesmo entre os seus autores. Por outro lado, a violência vende bem. A violência, a tragédia, a sordidez. Muito mais, aliás, que os actos de bondade e de entrega - que os há, multiplicados por milhares de gestos anónimos e silenciosos: no remanso dos lares, na confusão da rua e, inadmissível a insinuação contrária, nas escolas.
Começo por avisar que não me excluo (ao meu comentário) do que vou dizer a seguir.
Lendo estes comentários, torna-se patente o que desde há muito reparo: cada um vê na mesma realidade, ou lê no mesmo texto, a confirmação do que pensava antes.
Como se o pensamento fosse um lugar onde se instalou, talvez confortável para o próprio, de onde não conta mais sair.
Como se olhasse um espelho em vez de ler um texto.
Daí resulta que, em comentários de sentido oposto, os "opositores" manifestem concordância relativamente ao texto original, no qual viram a confirmação do que pensavam. Impressionante!
Outra coisa: o comentário de Chantre, sendo o mais realista, não é conformista, como pode parecer a um olhar desatento. Pelo contrário, traz uma mensagem de esperança; o que, deixe que lhe diga, não é próprio de um céptico. Além disso, o que diz é profundo e constitui um texto muito belo do ponto de vista formal.
Agradeço-lho.
- Isabel X -
Viva Isabel X.
Limitei-me a sublinhar o seguinte: "Um professor de musica pôs termo à vida. Segundo a imprensa, confessou não conseguir lidar com o desrespeito dos seus alunos. Espero que este não seja mais um pretexto para continuar a discutir ao lado da questão, isto é da escola e da sua organização."
Tenho tentado, dos modos mais diversos e da forma mais contida de que sou capaz, não sair de um registo: "... da escola e da sua organização".
Mas se olharmos para os últimos 4 anos não foi nada fácil manter esse compromisso. Tem sido necessário respirar muito fundo e ter uma paciência infinita.
Francamente, mas muito francamente: é-me quase incompreensível registar a generalizada antipatia para quem se limita a defender o poder democrático da escola pública.
Mas deixemos isso por agora e façamos um silêncio em homenagem ao professor que se suicidou há mais de um mês mas cujas causas só agora foram tornadas públicas por respeito pela sua memória e por decisão expressa dos seus familiares mais próximos: irmã e pais.
Com todo o respeito, fico-me por aqui.
Aquele abraço a todos.
Obrigado, Isabel X. Em si, a generosidade só é suplantada pelo brilho do olhar que, ainda assim, não conseguiu ver que, no meu comentário anterior, mais que esperança, se revela o desencanto de quem regista no tempo que se vive a avidez de ler em cada acontecimento, por mais corrente, um prenúncio do Apocalipse e a incapacidade de repousar na serenidade dos pequenos nadas, posto que não incendeiam turbas nem alimentam o falatório de quem se julga profeta de um mundo perfeito. Só isso.
Eu gostava de dizer ainda mais qualquer coisa, mas como estou apenas a pensar por mim, e a ver-me ao espelho - e que lindo sou - já nem me atrevo. Francamente, Isabel.
A propósito, e contando com a generosa condescendência do prof. Serra, permito-me sugerir a leitura de mais um excelente texto de Helena Matos no "Público" de hoje - ademais, e como sempre, "escrito em português". Nele se mostra como o esquecimento da realidade, potenciado pelo aparato conceptual com que o "pensamento correcto" julga dominar os acontecimentos (por mais comuns) e pelo afastamento do bom senso (a faculdade mais bem distribuída mas mais mal usada), torna o nosso tempo, na sua "confusão moral", refém das suas próprias fantasias, impedindo-o de ver que, bastas vezes, "um charuto é, tão somente, um charuto".
Mais uma vítima da falta da liberdade de expressão...
Só que desta vez a culpa é minha e não do governo...
Até me sinto mal por não se ficar a saber o que terias para dizer. É de uma perda que se trata.
Vá lá, Rui... Não sejas assim... Eu prometo não comentar a seguir...
- Isabel X -
Está bem, Isabel. Eu passo, assim num repente, a ser tudo aquilo que queiras, mesmo que seja o oposto de tudo o que seja ou pense. Ponho por ordem: sou, pois, uma vítima, o que digo, mas absolutamente tudo quanto digo, penso ou escrevo é absolutamente imperdível por ser de uma importância inexcedível e considero-me a próxima Índia por descobrir. (...pensar que consideras mesmo que eu tinha mais alguma coisa para dizer é, depois de anos a rir contigo, no mínimo, desconcertante...) Toma mazé juízo e comenta lá quando e o que quiseres. Os blogs são coisas que ajudam tanto a que não nos levemos a sério... Não vou prescindir dessa irrisão por causa destas tareias semânticóides. Bem pelo contrário. bjinhos amigos do Rui
Já estou a quebrar uma promessa, mas é com gosto que o faço. É por isso que é tão bom "zangarmo-nos" a seguir sabe tão bem fazer as pazes, não é, Rui?
Rimo-nos muitas vezes juntos e ainda havemos de rir muitas mais (espero).
É condição do nosso sentido de humor que se exerça antes de tudo sobre nós mesmos, que não nos levemos demasiado a sério. Concordo. Nos blogues e em tudo o mais.
Outro assunto: não sei quem é Chantre, mas ele sabe bem quem eu sou. Obrigada pelo que diz a meu respeito, mesmo sendo para discordar do que eu dissera antes.
Outro ainda: Paulo Prudêncio, a questão que coloquei referia-se a todos em geral e a ninguém em particular. Aliás, sermos capazes de vermos as coisas em nós mesmos e a nós nelas é o que nos torna fascinantes.
A habilidade é do João, que brinca connosco, entretendo-se a fazer textos tão inteligentemente subtis que todos e cada um de nós vê neles algo que lhe diz respeito.
Beijinhos amigos
- Isabel X -
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