quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
Prémio Europeu do Espaço Público 2010
Como refere o El Pais de hoje, o júri deste ano premiou o grande (a nova Ópera de Oslo) e o pequeno (uma biblioteca de Magdeburgo). No primeiro caso, um projecto de grande envergadura, para uma capital (de um país produtor de petróleo). No segundo caso, um pequeno edifício, feito de materiais reciclados de um edifício em ruínas e de caixas de cerveja, construído pelos próprios habitantes de uma pequena cidade de uma região deprimida pela crise. Mais pormenores no site do prémio.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Construtores de cidades
A historiografia de Guimarães atribui ao ano de 1884 um particular significado. Nessa data ou à sua volta concentram-se acções e decisões que mudaram a cidade: a ligação ferroviária, a atribuição de uma escola industrial, a realização de uma Exposição Industrial que mobilizou e projectou a capacidade empreendedora da indústria regional. Por todas estas iniciativas e realizações paira uma geração de ouro e instituições novas: jornais, a Sociedade Martins Sarmento, empresas modernas.
Curiosamente, esse foi também um ano ímpar na história das Caldas da Rainha: criação da Escola de Desenho Industrial, instalação da Fábrica de Faianças dirigida por Rafael Bordalo Pinheiro, edição dos primeiros jornais locais, decisão de prolongar a linha férrea do Oeste de Torres Vedras até à Figueira da Foz (o comboio chegaria às Caldas em 1887, ano em que a Escola de Desenho foi transformada em Escola Industrial). Foi também em 1884 que o Hospital Termal se dotou de um plano de reforma que viria nos anos seguintes a constituir um ensejo de mudança urbanística profunda.
Em ambos os casos, decisões tomadas pela Administração Central, a partir do Ministério das Obras Públicas (a criação das escolas e a ferrovia), foram factor da modernização. Em ambos os casos, a industria foi motor de transformação. Em ambos os casos a cidade abandonou o casco antigo e começou a organizar o seu crescimento em direcção à estação e à linha do caminho de ferro.
Curiosamente, esse foi também um ano ímpar na história das Caldas da Rainha: criação da Escola de Desenho Industrial, instalação da Fábrica de Faianças dirigida por Rafael Bordalo Pinheiro, edição dos primeiros jornais locais, decisão de prolongar a linha férrea do Oeste de Torres Vedras até à Figueira da Foz (o comboio chegaria às Caldas em 1887, ano em que a Escola de Desenho foi transformada em Escola Industrial). Foi também em 1884 que o Hospital Termal se dotou de um plano de reforma que viria nos anos seguintes a constituir um ensejo de mudança urbanística profunda.
Em ambos os casos, decisões tomadas pela Administração Central, a partir do Ministério das Obras Públicas (a criação das escolas e a ferrovia), foram factor da modernização. Em ambos os casos, a industria foi motor de transformação. Em ambos os casos a cidade abandonou o casco antigo e começou a organizar o seu crescimento em direcção à estação e à linha do caminho de ferro.
domingo, 28 de março de 2010
sábado, 27 de março de 2010
Quem perdeu as eleições no PSD?
Inteiramente de acordo com Pedro Correia no blog "Albergue Espanhol": Manuela Ferreira Leite, Alberto João Jardim, Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Rangel.
sexta-feira, 26 de março de 2010
O republicanismo ontem e hoje
A convite do subdepartamento de História da Escola Secundária Francisco de Holanda, de Guimarães, participação hoje à noite na 29ª Semana Aberta ("Construir a Cidadania"), com uma apresentação sobre República e republicanismo nos séculos XIX e XX.
A sessão decorreu na mítica Sociedade Martins Sarmento (onde estive em Outubro de 1996 numa cerimónia de condecoração do então Presidente da Sociedade Dr. Santos Simões). Tópicos: o republicanismo greco-romano (Aristóteles, Cícero) e renascentista (Maquiavel); Montesquieu; o impacte das revoluções americana e francesa na difusão das ideias republicanas nos séculos XIX e XX; Tocqueville e Mazzini; o republicanismo no século XX: republicanismo e cidadania; republicanismo e laicidade; republicanismo e globalização.
A sessão decorreu na mítica Sociedade Martins Sarmento (onde estive em Outubro de 1996 numa cerimónia de condecoração do então Presidente da Sociedade Dr. Santos Simões). Tópicos: o republicanismo greco-romano (Aristóteles, Cícero) e renascentista (Maquiavel); Montesquieu; o impacte das revoluções americana e francesa na difusão das ideias republicanas nos séculos XIX e XX; Tocqueville e Mazzini; o republicanismo no século XX: republicanismo e cidadania; republicanismo e laicidade; republicanismo e globalização.
Nome de flor. Saudade
O lugar que ocupava nas nossas vidas provinha do afecto e não do estatuto. Com ela, a palavra Tia significava atenção, interesse, desvelo, presença sem intrusão, alguém que sabemos que anda por perto e que está lá nos momentos que verdadeiramente importam.
quinta-feira, 25 de março de 2010
A revolução republicana
Tentativa de sistematizar a história política dos tempos que antecederam a revolução republicana de 1910: as eleições de 1901, o fim do "acordo" do bipartidismo rotativo monárquico, a agitação política e social dos anos de 1902 e 1903, o franquismo e a progressiva sincronização entre descontentamento intelectual e protesto popular, a estrutura geográfica e orgânica do Partido Republicano (partido de quadros e partido de massas; partido frente, partido mata-borrão), referências ideológicas e opções tácticas e estratégicas; o ano de 1908: a porosidade entre o Partido e as organizações secretas; a preparação da revolução; o Partido e o Governo.
Ao contrário da manhã, ambiente marcado pela senioridade da assistência e pela familiaridade com a matéria.
Ao contrário da manhã, ambiente marcado pela senioridade da assistência e pela familiaridade com a matéria.
A perspectiva das coisas
Visita à Gulbenkian para ver a primeira parte da exposição sobre naturezas mortas da autoria de mestres europeus dos séculos XVII e XVIII. Como compreendo o fascínio por esta pintura que ornava os salões da aristocracia. Cada composição é um tratado sobre a luz, a perspectiva, a ordem, a simbologia, a nossa relação com as coisas de que gostamos e às vezes até os animais que nos rodeiam. Oportunidade para ver com as cores e as dimensões reais obras-primas que só conhecemos de reproduções.
Não perder a conferência que Jorge Estrela vai fazer no Auditório 2 da Fundação Gulbenkian no próximo dia 20 de Abril, às 18 horas.Josefa de Óbidos, Natureza-Morta com Doces e Barros, 1676
Republicanos de 1910
A audiência era muito jovem e resistiu bem a hora e meia de intervenções fracamente coordenadas entre si. Confesso que senti algum desconforto ao tentar abordar o meu tema - quem eram e o que pretendiam os republicanos portugueses que em 1910 tiveram a ousadia de criar uma das três repúblicas europeias - perante um público tão compacto, cujo à vontade com o tema e a época (certamente objecto de preparação prévia pelos seus professores) desconhecia, e cuja motivação para as problemáticas históricas de todo em todo me escapavam. Partilhar o palco com o Prof. Veiga Simão, ministro em 1970, quando eu era estudante do 3º ano do Curso de História, originou uma pequena torrente rememorativa. Talvez por isso quase não ouvi a sua palestra escrita, pausadamente lida. Luis Reis Torgal, consciente também do risco pedagógico de falar de temas históricos em cenário de Congresso perante jovens estudantes, respondeu à questão "o que é a res publica".
quarta-feira, 24 de março de 2010
Votação táctica
A posição dos partidos face ao PEC resulta de juízos de oportunidade. Tal como se previa, uma eventual vitória de Paulo Rangel na corrida PSD vai ter efeitos sobre o CDS. Antecipando tal possibilidade, Paulo Portas anunciou agora que chumba o PEC. Vai ser mais difícil à actual direcção do PSD não se abster.
terça-feira, 23 de março de 2010
Os debates de ontem nas televisões
A nova fórmula mágica da economia, ciência social mas não ciência humana: recuperar a economia sem criar emprego.
Vital de serviço
Vital Moreira responde à esquerda, hoje, no Público:
Ao contrário do que se tem dito, sem fundamento, o PEC em nada afecta o sistema de protecção social, mantendo integralmente o acquis social da legislatura anterior. Os únicos programas que vão ser descontinuados ou reduzidos são os que foram montados para responder à crise, tanto no apoio excepcional às empresas como nos apoios sociais especiais, os quais naturalmente não devem manter-se uma vez terminada a recessão e reiniciada a retoma. Aliás, não vão ser abandonados, antes vão ser reforçados, os programas de apoio activo ao emprego, dadas a previsível persistência de elevadas taxas de desemprego.
segunda-feira, 22 de março de 2010
A magnólia do "meu jardim"
Com a Primavera, a magnólia começou a despir-se.
A Magnólia
A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem a forma
o meu esplendor.
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.
Luiza Neto Jorge
domingo, 21 de março de 2010
Isabel Maria Fernandes
Conheço Isabel Fernandes há mais de duas décadas, desde o Museu de Olaria de Barcelos, onde trabalhava com o saudoso Eugénio Lapa Carneiro. Nos anos 90 veio para Guimarães e no Museu Alberto Sampaio tem aplicado sem cedência todas as qualidades que a caracterizam: entusiasmo, determinação, combatividade, conhecimento, inconformismo, imaginação, capacidade de mobilização e liderança de equipas. Ontem recebeu um gesto de reconhecimento público, vindo de um grupo de comunicação da região, numa festa a que pude assistir e aplaudir.
sábado, 20 de março de 2010
Loja do cão preto
Encontrei-a na net. com o subtítulo "antiguidades e gourmet", mas fixei-me na vertente de alfarrabista (uma combinação possível de gosto exigente com a circulação literária do passado. Fiz uma encomenda de livros e recebi-os pelo correio. Dias depois, o responsável, atento às minhas preferências, sugeria-me outras aquisições. Respondi com uma promessa de visita pessoal à "loja do cão preto", em Benavente.
E lá estive ontem, num ambiente um pouco surpreendente, onde se pode tomar um café e ler o jornal do dia, encontrar uma alcofa em cerâmica das Caldas ou uma bracelete de prata originária do Minho, uma pasta de azeitona alentejana ou uma garrafa e champagne francês. A net permite conhecer o catálogo, mas a atmosfera justifica uma ida e uma boa conversa com o proprietário.
E lá estive ontem, num ambiente um pouco surpreendente, onde se pode tomar um café e ler o jornal do dia, encontrar uma alcofa em cerâmica das Caldas ou uma bracelete de prata originária do Minho, uma pasta de azeitona alentejana ou uma garrafa e champagne francês. A net permite conhecer o catálogo, mas a atmosfera justifica uma ida e uma boa conversa com o proprietário.
sexta-feira, 19 de março de 2010
"Os ricos não pagam a crise"
Pedro Adão e Silva, no I, faz críticas duras ao PEC. O PS meteu na gaveta dos congelados as políticas sociais emblemáticas de Guterres e Ferro Rodrigues. Mas os tempo difíceis para a esquerda do PS não começaram agora. E estão muito longe do fim.
quinta-feira, 18 de março de 2010
quarta-feira, 17 de março de 2010
25 de Março (1)
III Congresso Oceanos do Saber
No dia 25 de Março realiza-se o III Congresso Oceanos do Saber, este ano subordinado à temática “Os 100 Anos da República” e com uma organização conjunta da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, do Património Histórico, do Colégio Rainha D. Leonor, da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e da Escola Secundária de Raul Proença, bem como com a participação da Escola Básica e Secundária Fernão do Pó (Bombarral).
Programa
10h30: Sessão de abertura no Colégio Rainha D. Leonor presidida pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha.
11h00: Conferência plenária – “OS 100 Anos da República”:
Moderadora: Isabel Xavier
Comunicações: Veiga Simão, Luis Reis Torgal e João Bonifácio Serra.
No dia 25 de Março realiza-se o III Congresso Oceanos do Saber, este ano subordinado à temática “Os 100 Anos da República” e com uma organização conjunta da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, do Património Histórico, do Colégio Rainha D. Leonor, da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro e da Escola Secundária de Raul Proença, bem como com a participação da Escola Básica e Secundária Fernão do Pó (Bombarral).
Programa
10h30: Sessão de abertura no Colégio Rainha D. Leonor presidida pela Câmara Municipal de Caldas da Rainha.
11h00: Conferência plenária – “OS 100 Anos da República”:
Moderadora: Isabel Xavier
Comunicações: Veiga Simão, Luis Reis Torgal e João Bonifácio Serra.
terça-feira, 16 de março de 2010
A japoneira do "meu" jardim
Como diz o provérbio chinês, é preciso subir mais alto para ver mais longe. As japoneiras surgem agora mais claramente enquadradas pelas magnólias.
segunda-feira, 15 de março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
Congresso
Um Congresso para testar a unidade interna, fazer a despedida de Manuela Ferreira Leite e confirmar o regresso de Pedro Santana Lopes, enquanto Rui Rio não sai do labirinto. Cavaco, lembrado por Marcelo, é apenas instrumental.
O "momento Fernando Costa" foi um "must".
O "momento Fernando Costa" foi um "must".
sábado, 13 de março de 2010
À janela de Rui Horta
A presença em palco da Banda Filarmónica da Sociedade Carlista de Montemor-o-Novo, executantes, figurantes e actores de uma encenação operática de um bailado contemporâneo faz deste magnífico espectáculo – As Lágrimas de Saladino – uma criação exemplar. Um trabalho criativo minucioso, onde o rigor das marcações funde origens e práticas culturais distintas. Uma grande celebração europeia e uma exortação à convivência entre os povos.
sexta-feira, 12 de março de 2010
O professor, a escola
Um professor de musica pôs termo à vida. Segundo a imprensa, confessou não conseguir lidar com o desrespeito dos seus alunos. Espero que este não seja mais um pretexto para continuar a discutir ao lado da questão, isto é da escola e da sua organização.
Pigmalião
Esta tentativa de trazer Ovídio – e a história de Pagmalião e Galateia – para o teatro moderno pode apresentar algumas fragilidades. Mas é um trabalho sério de teatro com texto que Pedro Mexia (autor da peça) e Marcos Barbosa (encenador) realizaram com boa nota. E uma bela história de amor feito, desfeito, refeito.
quinta-feira, 11 de março de 2010
quarta-feira, 10 de março de 2010
5 de Outubro
Vou ler com atenção 5 de Outubro: uma Reconstituição, de Ernesto Rodrigues, que a Gradiva editou. Desde 1964 (Jacinto Baptista, O Cinco de Outubro, edição Arcádia) que o 5 de Outubro de 1910 não atraia um olhar dedicado.
terça-feira, 9 de março de 2010
9 de Março
Aceitei gravar, há duas ou três semanas, um breve depoimento sobre os 4 anos do mandato presidencial do Professor Cavaco Silva. Respondi com franqueza às perguntas que a jornalista me colocou. Não sei de que forma foi editada a entrevista, porque não me foi possível ouvi-la. No essencial, salvaguardados aspectos da relação pessoal, reportei-me ao exercício de um mandato que, ao invés do que se passou no do seu antecessor, evoluiu de um sistema de governo de maioria absoluta para um governo de maioria relativa. O exercício do mandato presidencial não é rigorosamente idêntico num caso e noutro. O Presidente Cavaco Silva deu alguns sinais de mais difícil adaptação a este cenário de um Governo de maioria relativa. Também me referi às dificuldades que o Presidente experimentou em lidar com o sistema autonómico, um aspecto porventura mais importante do que terá por ele sido perspectivado do nosso regime constitucional. Finalmente antecipei a sua recandidatura, baseado na convicção de que,se não o tencionasse fazer, já disso deveria ter prevenido os dirigentes do bloco partidário que apoiou a sua candidatura.
segunda-feira, 8 de março de 2010
"Olho de Pedro"
Nas igrejas de aldeia, os homens estão, à missa, separados das mulheres, e estas mesmas têm a sua posição, conforme as idades. Assim, os homens ficam mais próximos do altar; seguem-se as mulheres novas; para a porta de entrada ficam as mais idosas. Se alguma mulher de idade vai misturar-se com as raparigas, diz-se que ela se vai por no “olho de Pedro”, inferindo-se daí que ela ainda é gaiteira e com pretensões. O “olho de Pedro” parece pois por ser o sítio da igreja mais exposto às olhadelas dos tunantes.
Francisco Martins Sarmento, Antíqua. Tradições e Contos Populares. Guimarães, Sociedade Martins Sarmento, 1998. p. 133 [cadernos de campo redigidos nas duas décadas finais do século XIX]
Francisco Martins Sarmento, Antíqua. Tradições e Contos Populares. Guimarães, Sociedade Martins Sarmento, 1998. p. 133 [cadernos de campo redigidos nas duas décadas finais do século XIX]
domingo, 7 de março de 2010
Rua da Estrada
A rua da Estrada é o resultado da urbanização apressada onde o rural e o urbano formam um compósito fragmentário. A rua da estrada é uma metáfora do urbanismo improvisado que caracterizou a ocupação do território nas últimas décadas. Álvaro Domingues coligiu neste livro surpreendente as provas da cidade ordinária, centrífuga, entrópica, dos espaços transgénicos que assentam no fim da cidade e do campo, ou melhor, do fim da cidade/campo. A rua da Estrada não tem passeios como as ruas nem bermas como as estradas, tem escombros e publicidade, tem casas e lojas, animais de pedra e vendas de produtos agrícolas, tem floreiras e fios em profusão, tem sinalética contraditória e confusa, restos de casas antigas, barracas e casas de emigrantes, automóveis e contentores, restaurantes e vendas as mais extraordinárias, locais votivos e montras. A rua da Estrada é mercado, habitação, indústria e serviço, é comunicação e mobilidade. É fluxo permanente, lá onde os limites estão mal definidos. É tudo o que não gostamos na cidade. Mas é a primeira imagem da cidade.
Nota de leitura da obra de Álvaro Domingues, A Rua da Estrada. Porto, Dafne Editora, 2009.
sábado, 6 de março de 2010
sexta-feira, 5 de março de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
Tenho direito a uma árvore em frente da minha porta
Antónia de Sousa - Também não é fácil a sua relação com o Porto?
Eugénio de Andrade - Nenhuma relação profunda é fácil. A cidade é triste, escura, barulhenta. com nevoeiros que a tornam húmida, viscosa. Pior ainda: aqui arrancam-se as árvores como se fossem ervas daninhas. Em frente da minha casa havia uma de ramagens vigorosas que me entravam pela varanda. Os pássaros, o que temos mais próximo dos anjos, ali estavam de manhã cedo, a lembrar-me que, na minha poesia, os melhores versos lhes pertenciam. Arrancaram-na, e arrancaram outra ao lado, e outras mais adiante. A Câmara mandou arranjar os espaços para se arrumarem mais carros. Como ao lado, e em frente, e mais abaixo, há oficinas de reparação de automóveis, é frequente ver à porta veículos transformados em sucata. A estética camarária tem destas preferências. Senhor presidente: sou um cidadão que paga pontualmente os seus impostos: tenho direito a uma árvore em frente da minha porta em vez de um monte de lixo. Reclamo da Câmara, para me reconciliar com a cidade, uma árvore. E não quero uma árvore qualquer: exijo um jacarandá. Para que a sua flor me anuncie perpetuamente o verão.
Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa. 2º vol. 4ª edição. Lisboa, O Jornal, 1990.
quarta-feira, 3 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
Não está a cousa no levantar, está no cair
Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também esta. O estilo há-de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear. Exiit, qui seminat, seminare. Compara Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. Nas outras artes tudo é arte: na música tudo se faz por compasso, na arquitectura tudo se faz por regra, na aritmética tudo se faz por conta, na geometria tudo se faz por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte, caia onde cair. Vede como semeava o nosso lavrador do Evangelho. "Caía o trigo nos espinhos e nascia". Aliud cecidit inter spinas, et simul exortae spinae. "Caía o trigo nas pedras e nascia". Aliud cecedit super petram, et natum. "Caía o trigo na terra boa e nascia". Aliud cecidit in terram bonam, et natum. Ia o trigo caindo e nascendo.
Assim há-de ser o pregar. Hão-de cair as cousas e hão-de nascer; tão naturais que vão caindo, tão próprias que venham nascendo. Que diferente é o estilo violento e tirânico que hoje se usa! Vir ver os tristes passos da Escritura, como quem vai ao martírio; uns vêm acarretados, outros vêm arrastados, outros vêm estirados, outros vêm torcidos, outros vêm despedaçados; só atados não vêm. Há tal tirania? então no meio disto, que bem levantado está aquilo! Não está a cousa no levantar, está no caír: Cecedit. Notai uma alegoria própria da nossa língua. O trigo do semeador, ainda que caiu quatro vezes, só de três nasceu; para o sermão vir nascendo, há-de ter três modos de cair: há-de cair com queda, há de cair com cadência, há-de cair com caso. A queda é para as cousas, a cadência para as palavras, o caso para a disposição. A queda é para as cousas, porque hão-de vir bem trazidas e em seu lugar; hão-de ter queda. A cadencia é para as palavras, porque hão-de ser escabrosas nem dissonantes; hão-de ter cadência. O caso é para a disposição, porque há-de ser tão natural e tão desafectada que pareça caso e não estudo: Cecidit, cecidit, cecidit.
Padre António Vieira, Sermão da Sexagésima (1665). In Sermões. Lisboa, Leya, 2008. p. 152-153.
Assim há-de ser o pregar. Hão-de cair as cousas e hão-de nascer; tão naturais que vão caindo, tão próprias que venham nascendo. Que diferente é o estilo violento e tirânico que hoje se usa! Vir ver os tristes passos da Escritura, como quem vai ao martírio; uns vêm acarretados, outros vêm arrastados, outros vêm estirados, outros vêm torcidos, outros vêm despedaçados; só atados não vêm. Há tal tirania? então no meio disto, que bem levantado está aquilo! Não está a cousa no levantar, está no caír: Cecedit. Notai uma alegoria própria da nossa língua. O trigo do semeador, ainda que caiu quatro vezes, só de três nasceu; para o sermão vir nascendo, há-de ter três modos de cair: há-de cair com queda, há de cair com cadência, há-de cair com caso. A queda é para as cousas, a cadência para as palavras, o caso para a disposição. A queda é para as cousas, porque hão-de vir bem trazidas e em seu lugar; hão-de ter queda. A cadencia é para as palavras, porque hão-de ser escabrosas nem dissonantes; hão-de ter cadência. O caso é para a disposição, porque há-de ser tão natural e tão desafectada que pareça caso e não estudo: Cecidit, cecidit, cecidit.
Padre António Vieira, Sermão da Sexagésima (1665). In Sermões. Lisboa, Leya, 2008. p. 152-153.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Virgílio Ferreira
Sim, é possível que Paulo Rangel seja o vencedor. De todos os candidatos, é o que mais propensão mostra para dar corpo àquela frase maldosa de Virgílio Ferreira: “a palavra de um politico não é a palavra que se dá, é a palavra que se vai dando”.
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