sábado, 21 de janeiro de 2012
Registo
Sessão de abertura de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura
A todos aqui presentes saúdo e dou as boas vindas, prestando reconhecimento pela participação nesta cerimónia que assinala a abertura oficial de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.
É também este o momento e o lugar para, em nome da instituição que recebeu o encargo de cumprir esta missão, agradecer solenemente: ao Senhor Presidente da República, pelo apoio e acompanhamento institucional que prestou a este projecto, à Assembleia da República na pessoa da sua Presidente, e a todos quantos nos confiaram esta responsabilidade e nos têm ajudado a concretizá-la: a Comissão Europeia, os Governos de Portugal – os seus mais recentes Primeiros Ministros e, em particular, os responsáveis pelas pastas da Cultura, da Economia, do Desenvolvimento Regional e do Turismo –, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e, muito especialmente, o Município de Guimarães, na pessoa do seu Presidente. Uma palavra de agradecimento é também devida ao Presidente do Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães, Dr. Jorge Sampaio, e a todos os restantes membros deste órgão de bom conselho.
Mas a palavra mais constante é devida à cidade de Guimarães, a todos os seus cidadãos, às múltiplas instituições e organizações da sua sociedade civil. Dirijo-me, com gratidão e cumplicidade, a esta cidade viva e dinâmica, que soube exigir, discutir, apoiar e enriquecer, com expectativa, emoção e entrega, este grande projecto, tornando-o verdadeiramente o que ele é: seu.
A Capital da Cultura que hoje abre as suas portas realiza-se numa cidade que é portuguesa, europeia e universal. Uma cidade que, sem perda da memória das origens e da sua singularidade patrimonial e histórica, de que muito se orgulha, tem em si os anseios, as perplexidades e as dificuldades, mas também as oportunidades e os exaltantes desafios de todas as cidades destas primeiras décadas do século XXI. Guimarães é uma cidade europeia, equilibrando o peso da história com o desejo de futuro, acolhendo e vendo partir, fazendo e refazendo a sua identidade na relação criativa com o exterior.
Onde está uma cidade europeia está uma cidade com consciência cultural, um difusor de modernidade, um organizador de territórios, um pólo de inovação e de riqueza que se espalha pela rede de que faz parte. É por isso que a Europa tem posto nesta construção uma ênfase especial, e atribuído à agenda urbana uma relevância prioritária.
Sabemos que, seja qual for a perspectiva que pretendamos destacar nessa agenda, a da coesão ou a da sustentabilidade, a da competitividade ou da governação, o desafio da criatividade é decisivo, no seu desdobramento em educação, cultura, artes, arquitectura, ciência, tecnologia, inovação. Sem criatividade e conhecimento, não há hoje nada que se afirme, vença e perdure.
O programa de Guimarães 2012 é fiel a este compromisso, que é também um desígnio. Nessa medida, inscreve nele a cultura e a criatividade, e a relação de ambas com a economia e o desenvolvimento, como fundamentos insubstituíveis na afirmação da Europa e das cidades europeias.
A cidade é, de facto, um dos grandes centros da cultura moderna e pós-moderna. De Baudelaire a Rimbaud, de Cesário Verde a Fernando Pessoa, de Walter Benjamin a Henri Lefebvre, de Sant´Elia a Vieira da Silva, de Fritz Lang a Woody Allen, de Paul Virilio a Siza Vieira, a cidade é um dos temas principais das suas criações e das suas reflexões. O grande poeta português Carlos Oliveira disse: “Cantar é empurrar o tempo ao encontro das cidades futuras”.
O poeta belga Émile Verharen, um dos que melhor interpretou as transformações da cidade industrial, dedicou um dos seus poemas às Ideias sonhadas entre as brumas que se acumulam lá longe, lá no alto, perto dos sóis: “Sobre a Cidade, cujos desejos resplandecem/Reinam, sem que as vejamos,/Apesar de evidentes, as Ideias“.
De facto, as cidades são feitas tanto de pedras como de ideias. São as ideias que as desenham, que as configuram, que as transformam, que lhes dão vida. São ainda as ideias que exprimem a energia dos cidadãos e estruturam a vida colectiva. São elas o que move e o que fica nas cidades.
De que ideias se faz então Guimarães 2012?
Desde a Grécia antiga o sabemos, a cidade é a vitalidade dos seus cidadãos e o património comum que sabe gerar e acrescentar ao longo de gerações. Esse património comum, mais do que um resultado, é um processo. Há, nele, construção e destruição, há, no seu movimento, inovação, dinamismo e surpresa.
Por isso dizemos: o que conta acima de tudo no programa cultural e artístico que, a partir de hoje, se abre à participação de todos os europeus, é o processo, é a descoberta, são as novas criações e as novas obras, que assim se acrescentam e acrescentam o património comum da cidade e das cidades.
Um processo é experimentação, invenção, aprendizagem. No programa de Guimarães 2012 , o lugar da formação e da educação é central. Aprender fazendo exige, mais do que meios e técnicas, um ambiente favorável à associação dos públicos à criação, à inclusão dos destinatários no espaço de produção artística. A criação desse ambiente foi o nosso principal objectivo e será uma das medidas do nosso êxito.
O nosso programa entende a inovação como um processo interactivo, feito de cooperação, colaboração e diálogo. Todos os espaços de criação, quer os de que já dispunha a cidade, quer aqueles que a Capital Europeia lhes somou, serão geridos segundo esse modelo de participação. Nesse processo encontrar-se-ão artistas e públicos, profissionais e amadores, criadores vindos do exterior e criadores fixados em Guimarães e na região, grandes instituições, como a Universidade, e pequenas associações voluntárias, projectos desenvolvidos em espaço público e projectos desenvolvidos em laboratório. Cruzar-se-ão investigadores, artistas e empresários; curadores, coleccionadores e autores, visitantes e residentes; aqui, encontrar-se-ão, em síntese, os distintos estratos de que se compõe uma cidade aberta ao País, à Europa e ao Mundo.
Gostaria por tudo isto de agradecer às equipas de Guimarães 2012 o empenho, a generosidade e o talento que puseram na preparação deste projecto: dos administradores aos directores, dos programadores aos produtores, dos colaboradores aos voluntários.
Permitam-me que demonstre esta nossa concepção com o exemplo da orquestra que está atrás de mim.
Há um ano atrás, o Juhana Inkinen, finlandês, a Elisabet Franch Moncunil, espanhola, a Erica Versace, italiana, o Virgílio Oliveira não se conheciam. Desde 1 de Dezembro que tocam juntos.
O Juhana tem 26 anos e estudou violino na Academia Sibelius de Helsínquia. A Bet, tem 28, nasceu em Barcelona e aperfeiçoou flauta na Academia do Scala de Milão. O Virgílio é de Guimarães, tem 21 anos e aprendeu fagote na Escola Superior de Música do Porto. A Erica, com os seus 25 anos, nasceu na Sicília e estudou harpa em Bruxelas.
A cidade já se habituou a vê-los passar com os seus instrumentos, e conhece algumas das suas histórias. A da Erica que partiu um dedo na noite agitada da Festa Nicolina, ou a do Jhuana que tenciona casar em Guimarães.
Para todos estes jovens – 9 espanhóis, 5 italianos, 3 britânicos, 2 finlandeses, 2 polacos, 1 dinamarquês, 1 sueco e 30 portugueses – tocar em Guimarães representa um desafio importante nas suas carreiras e um acontecimento inesquecível das suas vidas. Num mundo competitivo, difícil e exigente, Guimarães conseguiu ser um centro que atrai talento – e talento jovem - e lhe transmite energia e futuro.
É sob este símbolo que gostaria de situar Guimarães Capital Europeia da Cultura e esta inauguração. Neste tempo de inquietação, nunca devemos esquecer que, mesmo nos momentos em que tudo parecia perdido, foi nas grandes obras da cultura e da criação que a Europa encontrou ânimo, força e inspiração para se reerguer e se reinventar. De Guimarães, terra de origens e de renovações, contra a negação, o cepticismo e a desistência, é a esperança no nosso futuro que queremos afirmar e tornar visível.
João Serra
Presidente da Fundação Cidade de Guimarães
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Excelente discurso, extraodinária experiência...inesquecível.ObrigadoJoão!
NB
Enviar um comentário